Durante anos vivemos à grande e à francesa. Durante anos julgámo-nos ricos e gastámos como se o fossemos.
Durante anos recebemos milhões em subsídios que gastámos em completas inutilidades ou delapidámos em monstruosas, mas sempre impunes, roubalheiras. Durante anos atirámos para o lixo todas as hipóteses de mudar a economia nacional, tornando-a desenvolvida, sustentável e moderna, preferindo optar por projectos megalómanos mas muito evidentemente "manhosos".
Durante anos julgámo-nos os "maiores", apenas preocupados em, "parôlamente", ostentar riqueza, como quaisquer "novos-ricos" tolos, em vez de optarmos por trabalhar afincadamente, poupar equilibradamente e investir ajuizadamente.
Durante anos andamos a exigir ao Estado aquilo que lhe competia fazer, mas, fundamentalmente, aquilo que caberia a cada um de nós realizar - exigindo ao Estado como se o Estado fosse um estranho e não todos nós ou como se todos nós não tivéssemos que concorrer para o seu sustento e cuidado para que, então, ele pudesse também cuidar de nós.
Durante os últimos 38 anos pensámo-nos como uma país rico e próspero quando nunca saímos da "cêpa torta" da mais endémica e lamentável pobreza - a pobreza intelectual.
Durante os últimos 38 anos anos, enganámo-nos a nós próprios, recusando-nos a ver o que efectivamente somos e que toda a gente vê - porque nos julgámos sempre mais do que éramos e porque nos custa ver a realidade. Não produzindo o que gastávamos, vivemos sempre, nesses anos, do que pedimos emprestado. E, mesmo vivendo do emprestado, não deixámos nunca de gastar como se nada devêssemos.
Perante este quadro da mais indigente e miserável pobreza, resta-nos agora ser confrontados com a crueza da realidade:
BCE quer salários mais baixos para países em dificuldades ganharem competitividade.