Andamos há quase quarenta anos - desde o 25 do 4 - a esconder
"a nudez crua da verdade" da nossa incapacidade financeira para suportar as prebendas e benesses do nosso Estado e do nosso estado social, com "
o manto diáfano da fantasia" de fundos comunitários e empréstimos externos que deram a aparência de que éramos desenvolvidos e ricos, que só tínhamos que consumir e muito, gastando "à tripa forra", sem termos que nos preocupar com o futuro.
Só que a fantasia não dura para sempre e, mais tarde ou mais cedo,
"a nudez crua da verdade" acaba por se colocar à nossa frente, confrontando-nos, irremediavelmente, com a sua crua dureza.
É por isso que agora andamos com estes apertos financeiros e temos aí o famigerado relatório do FMI.
Mas não vale a pena continuarmos a querer laborar no engano, fugindo à realidade.
Se não for agora, mais tarde ou mais cedo, vamos ter que amargar as promessas e as esperanças, que mais não são que enganos, que, nestes anos, nos foram sendo passadas como o que devia ser a nossa ambição, porque para elas nunca houve qualquer fundamento, designadamente económico.
Convençamo-nos de vez: nós, o nosso país, não tem dinheiro, não gera dinheiro suficiente para sustentar todos os direitos, todas as benesses, todas as prebendas que um estado social demagógico e populista tem andado a distribuir indiscriminadamente. Convençamo-nos de vez que este bem-estar presente vai ter um custo pesadíssimo no futuro: o mal-estar das gerações futuras que, tendo que pagar esse bem-estar, nada beneficiaram com ele, vendo-se confrontadas com dificuldades inimagináveis.
Para as novas gerações, o amanhã será um pesadelo por causa dos que, hoje, se prometeram a si próprios viver num paraíso de fantasia e de empréstimo, a pagar no futuro.
Passámos os últimos quarenta anos a viver escondendo "
sob o manto diáfano da fantasia, a nudez crua da verdade"...