Governo apela aos funcionários para não se precipitarem nas reformas antecipadas Pelo que se tem visto na história recente, não deixa de ser curioso este «carinhoso» apelo governamental.
Há cinco anos atrás, o governo começou por atacar os funcionários públicos, dizendo-os uns calaceiros e uns privilegiados...
Depois decidiu que, para diminuir a dimensão da administração pública apenas poderia ser recrutado um trabalhador por cada dois que saíssem...
A seguir alterou o regime de aposentação dos funcionários públicos, em nome de uma demagógica «igualdade» com os demais trabalhadores, prejudicando deliberadamente todos aqueles que, já com longas carreiras, viram as suas expectativas de aposentação - fundadas em regimes definidos pelos Estado, nos quais confiaram e sobre os quais assentaram as suas expectativas de vida - completamente frustradas...
Por outro lado estas alterações – demagogicamente designadas de «convergência de regimes» – inicialmente prometidas para um período mais ou menos longo, foram sendo, sucessiva e subrepticiamente, introduzidas de surpresa, agravando a cada dia as condições em que os funcionários poderiam obter a sua aposentação. Em cinco anos subverteu-se completamente o regime de aposentação...
Perante o agravar das condições de aposentação – e fartos de aturar o caos em que, lenta mas seguramente, o governo vai conseguir transformar a administração pública – os funcionários, apesar de penalizados na sua aposentação, começaram a debandar. Geralmente foram os melhores e mais experientes que decidiram ir-se embora, mas isso pouco contou para o governo...
Os professores, os médicos, e, em geral, todos aqueles que, a cada agravamento das condições de aposentação, já nada mais tinham a perder, saíram. Saíram sem penalização, com penalização, saíram de qualquer forma. O que não estiveram foi para aturar mais isto...
O governo ficou impante com a debandada. A demagogia de apodar os funcionários públicos de «calaceiros» e «incompetentes» é aceite facilmente e colhe votos. A perseguição dos quiméricos «privilégios» dos funcionários públicos é um terreno sempre fértil, num país de pindéricos invejosos. A coisa funcionou e o governo sentiu-se legitimado para continuar a fronda, fundado na ideia que cumpria, para além dos seus objectivos, um desígnio nacional, ao mesmo tempo que poupava umas massas para o défice…
Agora, perante a ameaça de novas alterações no sentido do agravamento do regime de aposentação, os funcionários públicos intensificaram a debandada, pedindo cada vez mais a passagem à aposentação. Mas agora o governo «tremeu» com a ameaça cada vez mais visível de desertificação dos serviços, pois não se acredita que os seus apelos se devam à consideração que tem pelos funcionários públicos ou à vontade de os proteger…
Os funcionários públicos fazem funcionar a máquina do Estado. Maus ou bons são eles que fazem funcionar essa máquina. É evidente que a máquina pode ser grande demais – então que se diminua. É evidente que há maus funcionários – por mais que os sindicatos digam que são todos exemplares e que a cada ano que passa peçam aumentos salariais gerais pelos «ganhos de produtividade» que se são justos para uns são absolutamente injustos para outros, que se limitam a arrastar-se pelos serviços. Mas, ainda assim, é com os funcionários públicos que existem que se faz funcionar, e efectivamente funciona, a máquina do Estado.
O governo deu-se conta que a debandada geral, para além de sobrecarregar dramaticamente a CGA, pode pôr em causa o funcionamento da máquina do Estado - e parece lembrar-se agora de que precisa mesmo dos funcionários públicos. Tarde piaste…
O que os funcionários públicos têm a fazer é aposentar-se massivamente. Quantos mais melhor. Onerar, de forma súbita, a Caixa Geral de Aposentações e esvaziar os serviços públicos. Pode ser que assim o governo compreenda que há métodos que sendo muito do agrado popular, podem vir a dar maus resultados. E pode ser, também, que assim, todos aqueles que não se cansam de apodar os funcionários públicos de mandriões, incompetentes e privilegiados, vejam como é bom poder chegar a um, outro e outro serviço público e não estar lá ninguém para os atender. Vão, finalmente, poder ver concretizado o seu sonho: um país sem saúde pública, sem escolas públicas, sem segurança pública, sem prestações públicas, sem segurança social, sem subsídio de desemprego, sem rendimento mínimo garantido, sem…, sem…, sem funcionários públicos a quem possam chamar de incompetentes e privilegiados porque «têm esse direito»: se pagam impostos podem insultar livremente quem trabalha para eles…
Vai ser tão bom quando os funcionários públicos debandarem todos, sem ficar nenhum, e o último a sair apagar a luz da última repartição…