O nome de Adolfo Rocha não será um nome muito conhecido. Para além de um círculo de pessoas ligadas à profissão - por a praticarem ou a ela recorrerem - não será conhecido por aí além, fora desse círculo mais ou menos local ...
É pois natural que se fosse levada cabo uma homenagem a Adolfo Rocha, no centenário do seu nascimento, o governo não se sentisse protocolarmente obrigado a estar presente.
Porém quando esse Adolfo Rocha escreveu páginas admiráveis, de uma enorme força telúrica, retratando o Portugal mais agreste e mais verdadeiro, quando pintou a vida dura das serranias, a luta pela vida, a trilhar por destino ou por vontade, quando nos permitiu sentir, em palavras, o "cheiro da terra", quando esse Adolfo Rocha mais não é do que Miguel Torga - um escritor nacional, cuja memória o tempo não apagará - não não se compreende que na homenagem pela passagem do centésimo aniversário do seu nascimento o governo e o ministério da cultura não se tivesse "feito representar" senão pelo delegado regional da Cultura de Coimbra ...
Então o governo, que há dias acorreu em peso à posse do presidente da câmara de Lisboa, não tinha mais ninguém para estar presente na cerimónia do que o delegado regional ?
Para o governo Miguel Torga representa tão pouco nas letras portuguesas que nem sequer merece a presença de um secretário de estado, para não se falar num ministro?
Não podiam, ao menos, ter mandado lá aquele senhor que mandaram à posse do Alberto João?
Será que o governo sabe quem foi - quem é, porque os escritores nunca morrem - Miguel Torga?
Nem se pergunta se alguma vez o leu - porque não vale a pena ter uma resposta correspondente à "representação" ...!!!
A ministra da cultura acha que homenagear Torga não é um acto de cultura, ou que não tem suficiente relevo cultural?
Porquê esta representação "básica", como se uma homenagam a Torga fosse o mesmo que uma qualquer louvaminha a um ignaro "correspondente" de um qualquer obscuro periódico local?
E, note-se, Torga foi sempre um
compagnon de route dos socialistas ...
Ainda que a cerimónia decorresse em Coimbra - cidade que tem sido reiteradamente desconsiderada pelo governo - patrocinada por uma camara municipal que não é socialista e que tem combatido opções do governo como Souselas - motivo mais que suficiente para integrar o
index - e com a presença da Universidade de Coimbra - entidade pela qual o governo parece não nutrir uma especial simpatia - Torga é Torga.
Torga é um escritor e poeta de dimensão nacional ... Poderá também ter sido Torga por "ser" de Coimbra. Mas decerto que foi Torga por ser português.
Nessas terras serranas que Torga evocou, ouve-se, às vezes, um velho adágio rimado:
Pilriteiro, que dá pilritosporque não dás coisa boa?Cada um dá o que tem,conforme à sua pessoa.