Etiqueta e boas maneiras
Ao embrulhar, numa folha de um conhecido diário portuense, para melhor o proteger dos embates, um frasco de água de rosas a aviar juntamente com um pacote de saltratos, saltou à vista uma notícia deveras curiosa.
A folha era da conhecida gazeta O Comércio do Porto e a edição era a do dia 9 de Julho corrente.
Rezava assim a dita prosa:
Ministro em causa
Ambiente de cortar à faca nas CCDR
O Governo decidiu modificar a lei, passando os novos presidentes da Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) a ser nomeados. À espera que o decreto-lei seja publicado em Diário da República, o Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, Nunes Correia, lá vai gerindo como pode esta dossiê. Mas o ambiente está de tal forma deteriorado entre a tutela e quem dirige as comissões que já se trocam cartas de demissões com as respectivas respostas a serem feitas não por quem de direito, mas por chefes de gabinete. Nem uma palavra de agradecimento e/ou justificação pela decisão tomada. “Este governo é bem pior que o de Cavaco Silva. Sem dúvida, mais centralista”, dizia, um dia destes ao COMÉRCIO alguém ligado às CCDR. E, como diz o povo, “a procissão ainda vai no adro”, porque há sempre indemnizações a pagar nestas ocasiões. Entretanto, as demissões vão continuar. Quanto aos novos presidentes das CCDR só lá para Setembro depois de umas retemperadas férias de Verão.
Não se percebe, contudo, a “admiração” implícita em toda a notícia.
Nada no que nela é dito constitui novidade ou, afinal, motivo para admiração alguma!
O governo, capitaneado pelo primeiro ministro pinto de sousa, tem sido exímio na pratica de um novo conjunto de regras de etiqueta e boas maneiras, desigandas por “galeguices”, relativamente a todos os que “não se deitam” perante a sua palavra e vontade, ou não são “rosinhas” (sendo que, por razões politicas óbvias e por outro tipo de razões cada vez mais “orgulhosamente” na moda, quem hoje não seja “rosinha” está sujeito a um mais que justificado “ostracismo”).
Um dos mais visíveis artistas nestas novas, mas agora “habituais”, regras de “etiqueta e boas maneiras” tem sido o ministro da saúde, que tem provocado sucessivas demissões, apenas e tão somente com recurso ao expediente de “não passar cartucho” a quem está "mortinho" para "ver pelas costas", por ocupar lugar destinado a um "boy".
Deste modo, vários altos dirigentes de estruturas da área da saúde têm pedido a sua exoneração, completa e avassaladoramente “esmagados” pelo excesso de etiqueta e reiteradas provas de tanta boa educação.
Outros ministérios, face à mais que demonstrada eficácia do método, passaram a actuar do mesmo modo.
O exemplo supra referido é um exemplo claro deste estado de coisas.
Dito isto, não é de estranhar que, como relata a notícia, a aceitação de um pedido de exoneração formulado por um dirigente de uma CCDR, que é equiparado a director geral, lhe seja comunicado pelo chefe do gabinete, ou neste caso pela “chefa” de gabinete (e que também já tinha sido adjunta do ministro Amílcar Theias - o que também não é lá grande coisa …).
Já se está mesmo a ver o estilo da prosa “comunicativa”:
Ao presidente da ccdr (tudo em minúsculas, para “achincalhar” mais …)
Encarrega-me Sua Excelência o Senhor Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional de lhe comunicar que o seu pedido de exoneração foi aceite, mas como apenas se pretende nomear um novo presidente a seguir ás férias de verão e às autárquicas – porque temos que ver primeiro que malta é que leva uma “abada” nas eleições e fica desempregada – vai ter que “aguentar os cavalos”, em exercício de funções, até ser definitivamente “corrido” – o que não deixará de notar quando chegar o momento.
Com os melhores cumprimentos
A Chefe do Gabinete
Acontece assim porque, neste momento, para começar a “virança” (termo novo do léxico BE) na cor das CCDR (excepto a de Lisboa e Vale do Tejo, que não precisa de nova “pintura”) o governo aguarda ainda a publicação (1) de um novo decreto-lei, já por ele aprovado em Conselho de Ministros, que altera o regime actual de nomeação dos presidentes das CCDRC (nos quais os Conselhos Regionais tinham intervenção), e que passa a atribuir esse poder de nomeação, em exclusivo, ao governo.
A aprovação deste diploma destina-se, por um lado, a evitar que, por força da aprovação, na Assembleia da República, da nova lei sobre as “novas” regras de nomeação para os altos cargos da administração pública, o cargo de presdiente da CCDR passe a ser um daqueles em que o dirigente se mantém em exercício de funções para além ou independentemente da mudança do governo, e por outro a permitir que o governo retire quem lá está e nomeie para lá quem bem lhe apetecer sem qualquer entrave do Conselho Regional, onde têm assento todas as Câmars Municipais (o governo já deve estar à espera de uma completa "débacle" nas autárquicas).
É evidente que após ter feito as suas nomeações e depois da publicação das "novas regras" para nomação de dirigentes, o governo do engenheiro pinto de sousa há-de arranjar um qualquer motivo para voltar a alterar a orgânica das CCDR (por exemplo a propósito da reforma das CCDR ou da reforma da administração pública) de modo a que o cargo de presidente passe novamente a ser um daqueles que se mantém para além da mudança de governo.
Com esta pequena “manobra” o governo PS assegura-se de que à frente da gestão dos milhões de euros dos fundos do próximo e último quadro comunitário de apoio (mais conhecido por “massas de Bruxelas”), estejam presidentes “rosinhas” com os quais qualquer novo governo de outra “cor” vai ter que aguentar, enquanto não arranjar modo de se ver livre deles.
E quando tal vier a acontecer já será irremediavelmente tarde no que aos fundos comunitários toca: tal como aconteceu com o governo Barroso, quando um novo governo de nova cor chegar ao poder, já não haverá um tostão disponível de fundos europeus, todos eles comprometidos com uma imensidão de projectos já aprovados nas respectivas “unidades de gestão” capitaneadas pelo presidente “rosinha”.
E é este o actual estado das regras de cortesia e bom trato!
Há muito, muito tempo, ensinava-se nas escolas primárias – quando ainda havia escolas primárias, quando ainda havia professores primários, e quando esses professores primários ensinavam, em quatro anos de escola primária, muito mais das ciências do saber e da vida que todo o actual sistema de ensino em doze – ensinava-se então nas escolas primárias o aforismo de que “quem semeia ventos, colhe tempestades”.
Para bom governo, de cada um e de todos ….
A folha era da conhecida gazeta O Comércio do Porto e a edição era a do dia 9 de Julho corrente.
Rezava assim a dita prosa:
Ministro em causa
Ambiente de cortar à faca nas CCDR
O Governo decidiu modificar a lei, passando os novos presidentes da Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) a ser nomeados. À espera que o decreto-lei seja publicado em Diário da República, o Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, Nunes Correia, lá vai gerindo como pode esta dossiê. Mas o ambiente está de tal forma deteriorado entre a tutela e quem dirige as comissões que já se trocam cartas de demissões com as respectivas respostas a serem feitas não por quem de direito, mas por chefes de gabinete. Nem uma palavra de agradecimento e/ou justificação pela decisão tomada. “Este governo é bem pior que o de Cavaco Silva. Sem dúvida, mais centralista”, dizia, um dia destes ao COMÉRCIO alguém ligado às CCDR. E, como diz o povo, “a procissão ainda vai no adro”, porque há sempre indemnizações a pagar nestas ocasiões. Entretanto, as demissões vão continuar. Quanto aos novos presidentes das CCDR só lá para Setembro depois de umas retemperadas férias de Verão.
Não se percebe, contudo, a “admiração” implícita em toda a notícia.
Nada no que nela é dito constitui novidade ou, afinal, motivo para admiração alguma!
O governo, capitaneado pelo primeiro ministro pinto de sousa, tem sido exímio na pratica de um novo conjunto de regras de etiqueta e boas maneiras, desigandas por “galeguices”, relativamente a todos os que “não se deitam” perante a sua palavra e vontade, ou não são “rosinhas” (sendo que, por razões politicas óbvias e por outro tipo de razões cada vez mais “orgulhosamente” na moda, quem hoje não seja “rosinha” está sujeito a um mais que justificado “ostracismo”).
Um dos mais visíveis artistas nestas novas, mas agora “habituais”, regras de “etiqueta e boas maneiras” tem sido o ministro da saúde, que tem provocado sucessivas demissões, apenas e tão somente com recurso ao expediente de “não passar cartucho” a quem está "mortinho" para "ver pelas costas", por ocupar lugar destinado a um "boy".
Deste modo, vários altos dirigentes de estruturas da área da saúde têm pedido a sua exoneração, completa e avassaladoramente “esmagados” pelo excesso de etiqueta e reiteradas provas de tanta boa educação.
Outros ministérios, face à mais que demonstrada eficácia do método, passaram a actuar do mesmo modo.
O exemplo supra referido é um exemplo claro deste estado de coisas.
Dito isto, não é de estranhar que, como relata a notícia, a aceitação de um pedido de exoneração formulado por um dirigente de uma CCDR, que é equiparado a director geral, lhe seja comunicado pelo chefe do gabinete, ou neste caso pela “chefa” de gabinete (e que também já tinha sido adjunta do ministro Amílcar Theias - o que também não é lá grande coisa …).
Já se está mesmo a ver o estilo da prosa “comunicativa”:
Ao presidente da ccdr (tudo em minúsculas, para “achincalhar” mais …)
Encarrega-me Sua Excelência o Senhor Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional de lhe comunicar que o seu pedido de exoneração foi aceite, mas como apenas se pretende nomear um novo presidente a seguir ás férias de verão e às autárquicas – porque temos que ver primeiro que malta é que leva uma “abada” nas eleições e fica desempregada – vai ter que “aguentar os cavalos”, em exercício de funções, até ser definitivamente “corrido” – o que não deixará de notar quando chegar o momento.
Com os melhores cumprimentos
A Chefe do Gabinete
Acontece assim porque, neste momento, para começar a “virança” (termo novo do léxico BE) na cor das CCDR (excepto a de Lisboa e Vale do Tejo, que não precisa de nova “pintura”) o governo aguarda ainda a publicação (1) de um novo decreto-lei, já por ele aprovado em Conselho de Ministros, que altera o regime actual de nomeação dos presidentes das CCDRC (nos quais os Conselhos Regionais tinham intervenção), e que passa a atribuir esse poder de nomeação, em exclusivo, ao governo.
A aprovação deste diploma destina-se, por um lado, a evitar que, por força da aprovação, na Assembleia da República, da nova lei sobre as “novas” regras de nomeação para os altos cargos da administração pública, o cargo de presdiente da CCDR passe a ser um daqueles em que o dirigente se mantém em exercício de funções para além ou independentemente da mudança do governo, e por outro a permitir que o governo retire quem lá está e nomeie para lá quem bem lhe apetecer sem qualquer entrave do Conselho Regional, onde têm assento todas as Câmars Municipais (o governo já deve estar à espera de uma completa "débacle" nas autárquicas).
É evidente que após ter feito as suas nomeações e depois da publicação das "novas regras" para nomação de dirigentes, o governo do engenheiro pinto de sousa há-de arranjar um qualquer motivo para voltar a alterar a orgânica das CCDR (por exemplo a propósito da reforma das CCDR ou da reforma da administração pública) de modo a que o cargo de presidente passe novamente a ser um daqueles que se mantém para além da mudança de governo.
Com esta pequena “manobra” o governo PS assegura-se de que à frente da gestão dos milhões de euros dos fundos do próximo e último quadro comunitário de apoio (mais conhecido por “massas de Bruxelas”), estejam presidentes “rosinhas” com os quais qualquer novo governo de outra “cor” vai ter que aguentar, enquanto não arranjar modo de se ver livre deles.
E quando tal vier a acontecer já será irremediavelmente tarde no que aos fundos comunitários toca: tal como aconteceu com o governo Barroso, quando um novo governo de nova cor chegar ao poder, já não haverá um tostão disponível de fundos europeus, todos eles comprometidos com uma imensidão de projectos já aprovados nas respectivas “unidades de gestão” capitaneadas pelo presidente “rosinha”.
E é este o actual estado das regras de cortesia e bom trato!
Há muito, muito tempo, ensinava-se nas escolas primárias – quando ainda havia escolas primárias, quando ainda havia professores primários, e quando esses professores primários ensinavam, em quatro anos de escola primária, muito mais das ciências do saber e da vida que todo o actual sistema de ensino em doze – ensinava-se então nas escolas primárias o aforismo de que “quem semeia ventos, colhe tempestades”.
Para bom governo, de cada um e de todos ….
(1) Nota de pé de posta, "pós-posta": O desejado decreto-lei foi hoje "dado à luz", tendo-lhe sido dado o bonito nome de Decreto-Lei nº 114/2005, de 13 de Julho.