A forma como o governo grego tem conduzido as negociação com
a troika não pode deixar de trazer à memória uma das mais típicas actuações da
esquerda naquele loucura demencial que foram os idos de 75. Eram as RGA’s, as
famosas
reuniões gerais de alunos nas
quais se entretinham os estudantes durante grande parte do tempo escolar.
Quem se lembrar disso, há-de recordar-se que eram umas
reuniões completamente
chanfradas,
convocadas pelos mais estapafúrdios motivos, onde se falava longamente das mais
absurdas imbecilidades, e nas quais, por fim se realizavam votações, por vezes
decidindo sobre assuntos graves, com a maior ligeireza, mas garantindo-se
sempre –
“a mesa” encarregava-se
disso – que a votação fosse sempre favorável aos proponentes ou seja aos
esquerdistas que
“comandavam” aquilo.
E a táctica era sempre a mesma. A reunião começava para aí
às 3 da tarde. A “mesa” iniciava os trabalhos e as primeiras horas eram gastas
a discutir os requerimentos mais tolos,as propostas à mesa mais cretinas que se possa imaginar. Quem lá tinha
ido a pensar que se iam discutir seriamente e votar coisas sérias começava a
duvidar. Mas ia aguentando, porque algumas vezes estava em causa os interesses
estudantis dos que eram
“mesmo”
estudantes, já que muitos era só agitadores e de estudantes apenas tinham a
designação.
A hora de jantar aproximava-se e nada. Continuavam as
discussões e votações estéreis, mas nada se dizia sobre os assuntos
verdadeiramente importantes. Com a hora de jantar começava a debandada daqueles
que achavam que na vida há prioridades e rotinas, e uma dessas rotinas é
alimentar e por isso prioritária, pelo que só pode ser derrogada por motivo
ponderoso. Era então que se começava a discutir – quando se discutia e não
apenas se gritava – os assuntos importantes, discussão essa que se prolongava
tanto mais quanto permanecessem ainda na assembleia elementos que pudessem
fazer perigar a vitória na votação dos esquerdistas. Por isso as coisas
arrastavam-se o necessário, com
intervenções e incidentes estúpidos, até que
“a mesa” considerasse o terreno
“limpo” ou seja, quando às tantas da matina, verificasse que já tinham ido para casa
todos aqueles que estudavam e que não se podiam dar ao luxo de fazer
“directas”. Então vá de votar tudo o que lhes passava pela tola – e então eram tudo votações convenientemente vitoriosas e, as mais das vezes, por unanimidade…
Ora esta técnica de desgaste foi a quilo que os esquerdistas
da Grécia tentaram importar para as negociações com a troika. Aquela coisa de
forçarem reuniões à noite, de retardarem até ao limite a entrega de novas
propostas que se revelavam não serem nem novas nem propostas, a ideia de
insistirem naquilo que já lhes tinha sido claramente dito não ser aceitável,
como se fossem surdos, o dizer para fora coisa diferente do ocorrido lá dentro, tudo isso tinha como único
objectivo, não chegar a um acordo, mas apenas fazer a troika
“vergar” de exaustão, fazê-la
desistir das suas propostas pelo
cansaço, conseguir a aceitação acrítica das exigências gregas por via de
insuportável insistência. Porém os homens da Europa, decerto
chamando a terreiro a sua experiência de
estudantes,
“puseram-se ao alto” e
mantiveram-se atentos e vigilantes a todo o momento, nem que fosse noite
dentro. E com razão. Se a Europa tivesse cedido neste momento nunca mais
poderia afirmar a sua autoridade e transformar-se-ia numa perpétua refém
de um grupo de
chanfrados do governo grego, sujeita a intermináveis exigência e novas extorsões.
Por isso a posição da Europa faz lembrar que nesses anos
malucos da
“revolução de Abril” houve estudantes que percebendo como a
esquerda actuava começou a reagir em conformidade: ninguém arredava pé,
mantendo-se até ao fim da RGA’s, nem que para isso alguém tivesse que ir buscar
umas sandwiches e umas águas ou cervejas ao café mais próximo, dormisse (se
conseguisse) uma
“soneca” por conta
de uma normal noite de sono, ou tivesse que ir buscar uns tantos que já estavam
em casa para que os
“esquerdos” não
ganhassem a votação e continuassem a transformar a vida académica, que
julgavam uma
“coutada” deles, num
“inferno”
para todos os demais.
E foi assim que, por cá, as coisas se foram
“endireitando”…
Decerto que, assim, também na Grécia as coisas se irão igualmente
“endireitar”…