O estudo de Alcochete ...
Depois do “estrondo” da apresentação de um estudo técnico que apresentava uma localização “alternativa” e vantajosa à Ota em Alcochete (desde logo, por exigir menos tempo de construção quer por implicar um despesa inferior) e que terá levado o governo a “suspender” o projecto da Ota por seis meses, para proceder a uma análise mais aturada daquela proposta, as notícias que se seguiram, designadamente no fim-de-semana agora terminado, não auguram nada de bom.
Em primeiro lugar, alguns elementos da direcção da CIP – que teoricamente “patrocinava” o dito estudo – deram mostras de incomodidade por não estarem ao corrente da sua realização nem da tomada de decisão para esse efeito. O estudo era da CIP mas a direcção da CIP não conhecia a sua encomenda… O presidente da CIP lá disfarçou e silenciou o incómodo (aliás de forma tão mais rápida e eficaz quanto de surpreendente, no que ela representa de acatamento pelos seus confrades) …
Depois de apresentado o estudo às mais altas individualidades, começou a questão de se saber quem tinha pago o estudo – como se isso, vá-se lá saber porquê, fosse essencial e determinante da bondade da solução apresentada. Neste país, um país de morrinhanha, sempre que alguém faz algo que “encha o olho”, logo os vizinhos se põem à janela a desconfiar do feito ou a presumir que dele algum proveito há-de reverter para o seu autor, que não para eles, como julgam ser-lhes devido (vá lá saber-se a que título …).
Perante a vozearia que se ia levantando, o presidente da CIP lá acabou por dizer que tinham sido uns empresários que haviam pago o dito estudo, revelando o nome dos “peixes” mais “graúdos” mas não de todos eles, porque alguns temiam “retaliações do governo”.
Isto revela um país: alguns empresários pagam um estudo “contra” o governo, mas depois não dão a cara porque temem uma retaliação; o governo permite-se agir de tal modo que há entidades que temem, não a justiça ou a aplicação da lei, mas as retaliações do governo …
Apesar da explicação “manhosa”, a vozearia calou-se. Parecia estar já tudo na melhor das harmonias quando este fim-de-semana – os fins-de-semana são propícios a estas coisas – se veio a saber que aquilo que tinha sido um estudo da iniciativa da CIP, resultou afinal de uma combinação com o governo, que alguém mais naif não consegue deixar de entender como um “cambalacho”. Mais um.
Vem-se pois a saber que o dito estudo foi pensado inicialmente como tendo também em consideração uma outra hipótese – Portela +1 – que nele acabou por ser simplesmente “esquecida”.
Fica-se também a saber que terá sido combinado que o patrocínio do estudo seria da CIP e da Associação Comercial do Porto. Mas fica-se também a saber que após uma conversa com o primeiro-ministro, o presidente da CIP comunicou ao presidente da ACP que afinal essa combinação ficava sem efeito, por “sugestão” daquele.
Certo é que essa combinação inicial CIP/ACP pressupunha que o estudo fizesse também a análise da solução Portela+1. A partir da “sugerida” “descombinação”, Portela+1 “evaporou-se” do objecto do estudo.
Ficou a saber-se, também, que o primeiro-ministro sabia do estudo há três meses. Porém até há escassos dias, o governo – o primeiro-ministro – persistia em afirmar que a única solução possível e admissível era a Ota.
O ministro das obras públicas até se permitiu dizer umas “boutades” post prandium em público e para as televisões, que fizeram as delícias da oposição: “jámé”... “jámé”...
De repente – quase no dia seguinte – o mesmo ministro passou, cheio de bonomia, a sustentar a necessidade de fazer uma análise mais profunda o novo estudo, que defende Alcochete como solução alternativa à Ota. E, para o efeito, suspendeu por seis meses, o processo da Ota.
Aquilo que parecia ser um triunfo da razoabilidade e do bom senso – e que a oposição, tonta, se deliciou a festejar como se esse adiar representasse uma derrota da teimosia do primeiro-ministro e do governo – pode muito bem, ser, afinal, uma manobra maquiavélica do governo para “com uma cajadada matar dois coelhos” – ou mais.
Em primeiro lugar, com este estudo e a “suspensão da Ota”, deixa de “ter à perna”, durante seis meses, os “chatos” anti-Ota... É que a “berraria” deles e o incómodo que provocavam já era muito.
Agora, até que o “independente” LNEC (que andou estes anos todos a fazer estudos para “suportar” e defender a Ota) proceda a um estudo comparativo das soluções apresentadas, o “pessoal” anti-Ota e pró-Alcochete vai ficar caladinho, à espera (da “sua” “vitória” …).
Ora estes seis meses compreendem não só o momento das eleições para a câmara de Lisboa – nas quais o candidato do PS, António Costa, andava “entalado” com a questão da Ota – como todo o período da presidência portuguesas da EU, durante o qual o governo “mal tem tempo para se coçar” …
Por outro lado, o governo deixa de poder vir a ser atacado por não ter dado ouvidos a outros estudos que indicavam soluções alternativas à do aeroporto da Ota. Aliás, não háde tardar que passe a dizer que, magnanimemente, até atendeu um estudo “independente” e mandou-o analisar a uma comissão “independente”, suspendendo, durante seis meses, para esse efeito, o projecto da Ota. Assim, deixa-se de poder sustentar que não tenham sido analisadas outras (todas as …) soluções possíveis.
Mas este fim-de-semana, ao “destapar” o que “destapou”, “destapa” ainda muito mais:
- revela que o presidente da CIP adora ser “pau mandado” do primeiro ministro e gosta de fazer uns “fretes” ao governo …
- revela que o primeiro ministro não olha a meios para atingir os fins …
- revela que este estudo, afinal, não vai servir senão para o governo ganhar seis meses de descanso…
Ou seja: a CIP prestou-se a patrocinar um estudo “independente” e “secreto”, que havia combinado com a ACP, com determinado sentido e objectivos, sentido e objectivos esses e combinação essa, desfeitos depois de conversa do presidente da CIP com o primeiro-ministro;
apesar de saber da elaboração do estudo, o governo defendeu intransigentemente a Ota até ao dia em que o recebeu e nesse dia “mudou” repentinamente, “de agulha” …; entretanto o ministro das obras públicas garantiu aos autarcas do Oeste que “estivessem descansados”, que a Ota “é que era” …!!!
Perante as revelações confusas do fim-de-semana levanta-se a dúvida legítima se, afinal, o estudo da CIP, não terá sido “encomendado”, ou até mesmo “sponsorizado” pelo governo – usando-se eufemisticamente, nesta parte, para a “tapar”, a “figura” do “empresário receoso de retaliações”…
Fica a pergunta para daqui a seis meses: será que o governo e o primeiro-ministro, que – ficou agora a saber-se – conhecia, condicionou e, nesse sentido, “patrocinou” o dito estudo da CIP, vai, daqui a seis meses, decidir-se, sem mais, pela Ota?
Se entretanto não forem feitos mais estudos, absolutamente independente e não direccionados, com substância e não apenas com “propaganda”, sobre a solução Ota (e outras que se perfilem, como a solução Portela+1), como é que o governo irá sustentar a sua opção pela Ota com base em estudos antigos, de modo a não dar (ou confirmar) a ideia de que este estudo da CIP não passou de um verdadeiro “embuste”, apenas destinado a servir os objectivos, imediatos e mediatos, do governo: ganhar seis meses de tranquilidade política, ajudar o candidato do PS em Lisboa e desarmar os "anti-Ota"?
Em primeiro lugar, alguns elementos da direcção da CIP – que teoricamente “patrocinava” o dito estudo – deram mostras de incomodidade por não estarem ao corrente da sua realização nem da tomada de decisão para esse efeito. O estudo era da CIP mas a direcção da CIP não conhecia a sua encomenda… O presidente da CIP lá disfarçou e silenciou o incómodo (aliás de forma tão mais rápida e eficaz quanto de surpreendente, no que ela representa de acatamento pelos seus confrades) …
Depois de apresentado o estudo às mais altas individualidades, começou a questão de se saber quem tinha pago o estudo – como se isso, vá-se lá saber porquê, fosse essencial e determinante da bondade da solução apresentada. Neste país, um país de morrinhanha, sempre que alguém faz algo que “encha o olho”, logo os vizinhos se põem à janela a desconfiar do feito ou a presumir que dele algum proveito há-de reverter para o seu autor, que não para eles, como julgam ser-lhes devido (vá lá saber-se a que título …).
Perante a vozearia que se ia levantando, o presidente da CIP lá acabou por dizer que tinham sido uns empresários que haviam pago o dito estudo, revelando o nome dos “peixes” mais “graúdos” mas não de todos eles, porque alguns temiam “retaliações do governo”.
Isto revela um país: alguns empresários pagam um estudo “contra” o governo, mas depois não dão a cara porque temem uma retaliação; o governo permite-se agir de tal modo que há entidades que temem, não a justiça ou a aplicação da lei, mas as retaliações do governo …
Apesar da explicação “manhosa”, a vozearia calou-se. Parecia estar já tudo na melhor das harmonias quando este fim-de-semana – os fins-de-semana são propícios a estas coisas – se veio a saber que aquilo que tinha sido um estudo da iniciativa da CIP, resultou afinal de uma combinação com o governo, que alguém mais naif não consegue deixar de entender como um “cambalacho”. Mais um.
Vem-se pois a saber que o dito estudo foi pensado inicialmente como tendo também em consideração uma outra hipótese – Portela +1 – que nele acabou por ser simplesmente “esquecida”.
Fica-se também a saber que terá sido combinado que o patrocínio do estudo seria da CIP e da Associação Comercial do Porto. Mas fica-se também a saber que após uma conversa com o primeiro-ministro, o presidente da CIP comunicou ao presidente da ACP que afinal essa combinação ficava sem efeito, por “sugestão” daquele.
Certo é que essa combinação inicial CIP/ACP pressupunha que o estudo fizesse também a análise da solução Portela+1. A partir da “sugerida” “descombinação”, Portela+1 “evaporou-se” do objecto do estudo.
Ficou a saber-se, também, que o primeiro-ministro sabia do estudo há três meses. Porém até há escassos dias, o governo – o primeiro-ministro – persistia em afirmar que a única solução possível e admissível era a Ota.
O ministro das obras públicas até se permitiu dizer umas “boutades” post prandium em público e para as televisões, que fizeram as delícias da oposição: “jámé”... “jámé”...
De repente – quase no dia seguinte – o mesmo ministro passou, cheio de bonomia, a sustentar a necessidade de fazer uma análise mais profunda o novo estudo, que defende Alcochete como solução alternativa à Ota. E, para o efeito, suspendeu por seis meses, o processo da Ota.
Aquilo que parecia ser um triunfo da razoabilidade e do bom senso – e que a oposição, tonta, se deliciou a festejar como se esse adiar representasse uma derrota da teimosia do primeiro-ministro e do governo – pode muito bem, ser, afinal, uma manobra maquiavélica do governo para “com uma cajadada matar dois coelhos” – ou mais.
Em primeiro lugar, com este estudo e a “suspensão da Ota”, deixa de “ter à perna”, durante seis meses, os “chatos” anti-Ota... É que a “berraria” deles e o incómodo que provocavam já era muito.
Agora, até que o “independente” LNEC (que andou estes anos todos a fazer estudos para “suportar” e defender a Ota) proceda a um estudo comparativo das soluções apresentadas, o “pessoal” anti-Ota e pró-Alcochete vai ficar caladinho, à espera (da “sua” “vitória” …).
Ora estes seis meses compreendem não só o momento das eleições para a câmara de Lisboa – nas quais o candidato do PS, António Costa, andava “entalado” com a questão da Ota – como todo o período da presidência portuguesas da EU, durante o qual o governo “mal tem tempo para se coçar” …
Por outro lado, o governo deixa de poder vir a ser atacado por não ter dado ouvidos a outros estudos que indicavam soluções alternativas à do aeroporto da Ota. Aliás, não háde tardar que passe a dizer que, magnanimemente, até atendeu um estudo “independente” e mandou-o analisar a uma comissão “independente”, suspendendo, durante seis meses, para esse efeito, o projecto da Ota. Assim, deixa-se de poder sustentar que não tenham sido analisadas outras (todas as …) soluções possíveis.
Mas este fim-de-semana, ao “destapar” o que “destapou”, “destapa” ainda muito mais:
- revela que o presidente da CIP adora ser “pau mandado” do primeiro ministro e gosta de fazer uns “fretes” ao governo …
- revela que o primeiro ministro não olha a meios para atingir os fins …
- revela que este estudo, afinal, não vai servir senão para o governo ganhar seis meses de descanso…
Ou seja: a CIP prestou-se a patrocinar um estudo “independente” e “secreto”, que havia combinado com a ACP, com determinado sentido e objectivos, sentido e objectivos esses e combinação essa, desfeitos depois de conversa do presidente da CIP com o primeiro-ministro;
apesar de saber da elaboração do estudo, o governo defendeu intransigentemente a Ota até ao dia em que o recebeu e nesse dia “mudou” repentinamente, “de agulha” …; entretanto o ministro das obras públicas garantiu aos autarcas do Oeste que “estivessem descansados”, que a Ota “é que era” …!!!
Perante as revelações confusas do fim-de-semana levanta-se a dúvida legítima se, afinal, o estudo da CIP, não terá sido “encomendado”, ou até mesmo “sponsorizado” pelo governo – usando-se eufemisticamente, nesta parte, para a “tapar”, a “figura” do “empresário receoso de retaliações”…
Fica a pergunta para daqui a seis meses: será que o governo e o primeiro-ministro, que – ficou agora a saber-se – conhecia, condicionou e, nesse sentido, “patrocinou” o dito estudo da CIP, vai, daqui a seis meses, decidir-se, sem mais, pela Ota?
Se entretanto não forem feitos mais estudos, absolutamente independente e não direccionados, com substância e não apenas com “propaganda”, sobre a solução Ota (e outras que se perfilem, como a solução Portela+1), como é que o governo irá sustentar a sua opção pela Ota com base em estudos antigos, de modo a não dar (ou confirmar) a ideia de que este estudo da CIP não passou de um verdadeiro “embuste”, apenas destinado a servir os objectivos, imediatos e mediatos, do governo: ganhar seis meses de tranquilidade política, ajudar o candidato do PS em Lisboa e desarmar os "anti-Ota"?