A ler...
... indispensavelmente, Alberto Gonçalves, no Observador.
(...) os massacres portugueses e gregos de 2017 (em dose dupla) e de 2018 são dos fogos florestais mais mortíferos dos últimos 70 ou 80 anos, no Ocidente e não só.
Sabem que os dois (ou três) exemplos constituem casos singulares de ineficácia do Estado no cumprimento da solitária missão que de facto lhe cabe.
Sabem que pior do que apanhar o sacrossanto Estado em flagrante delito é, logo de seguida, apanhar as suas figuras gradas numa impecável exibição de mentiras, desorientação, sentimentalismo, desprezo, cinismo e crueldade.
Sabem que, no auge da calamidade, um primeiro-ministro de férias em Espanha entra no território do grotesco.
Sabem que a nossa gloriosa nação está nas mãos de criaturas cuja competência não as prepara para sequer gerir um galinheiro, e cujo carácter aconselha a que não sejam deixadas a sós com as galinhas.
As vozes dos donos sabem.
E sabem que a vassalagem que prestam as torna menos recomendáveis do que os respectivos amos, e menos habilitadas a emitir palpites acerca das vítimas que manipulam a troco de uns trocos.
E sabem que nós sabemos que as vítimas não importam e nunca importaram, excepto na medida – aborrecida, concedo – em que obrigam a controlar eventuais danos na popularidade.
Apesar de beatas e repulsivas, as vozes dos donos sabem. E não querem saber: a fim de defender a nomenklatura, são capazes de tudo.