É exactamente isto que nós, os cidadãos das velhas Nações da velha Europa, andamos, na maior lassidão, a permirtir que aconteça…
Mantém-se um país sob uma ditadura há mais de meio século numa ilha onde desde as torradeiras às viagens tudo tem sido alvo da intervenção estatal. O ditador por decrepitude trespassa o poder a um irmão. E o irmão é convidado para discursar no funeral de Mandela. No mínimo espera-se que as delegações dos países democráticos ali presentes manifestem a sua indignação pelo que sucede na tal ilha nos termos veementes que agora dizem ter utilizado outrora junto das autoridades sul-africanas para condenar o apartheid. Raúl Castro é o símbolo das ditaduras toleradas quando não incensadas do passado.
O outro aspecto interessante dos escolhidos para discursar neste funeral é que nenhum deles é europeu ou representa sequer a UE : são eles Barack Obama (EUA), Dilma Rousseff (Brasil), Raúl Castro (Cuba), Hifikepunye Pohamba (Namíbia) e Pranab Mukherjee (Índia), enquanto o vice-presidente chinês Li Yuanchao também evocará algumas palavras de tributo a Mandela, segundo o guião do evento divulgado pelo governo sul-africano. A escolha reflecte claramente a nova ordem política do mundo. Essa ordem que impede o Dalai Lama de ir à África do Sul Essa ordem em que a UE é tratada sobraceiramete como irrelevante.
Coreografias de um funeral, de Helena Matos, no Blasfémias