Ao balcão da Pharmácia
Quem fez parte da comissão, do grupo de trabalho, do núcleo produtor, do que quer que seja que um belo dia deu à luz a TLEBS? Ninguém?
Quem cozinhou uma coisa que se diz não obedecer a nenhuma teoria linguística específica não se apresenta?
Quem avaliza academicamente a cientificidade, a coerência e o rigor dessa culinária de compromissos sumiu-se?
Quem a conferiu na perspectiva dos ensinos básico e secundário, lhe deu a sua concordância, informou superiormente sobre ela e a levou a despacho do Governo é uma entidade difusa, obscura ou incógnita?
Quem analisou a coordenação do seu conteúdo com os restantes aspectos do ensino do português evaporou-se?
Quem ponderou os seus inconvenientes face à aprendizagem de línguas estrangeiras e à cooperação com os países de língua portuguesa desapareceu?
Quem decidiu mandar aplicar a nova terminologia por circular fica no anonimato?
Quem vai aferir progressivamente os resultados não tem rosto?
Quem certifica os novos manuais, em matéria tão confusa, não sai de um limbo turvo?
Quem anuncia a revisão periódica da TLEBS, mesmo que isso contrarie a validade dos livros escolares por seis anos, foi pregar a outra freguesia?
Quem previu a maneira como as crianças que começaram a aprender com uma terminologia vão passar a ter de utilizar outra não se assume?
De quem se trata afinal?
São sombras de recorte fantasmagórico? Funções predicativas? Ectoplasmas? Modificadores? Enteléquias? Disjunções? Lobisomens? Meras frases entrechocando-se à solta no espaço virtual? Espectros? Mónadas desgovernadas? O fantasma da ópera? Elfos vagueando ululantes pela calada das noites sem luar?
Vasco Graça Moura, Escritor
hoje, no Diário de Notícias