"Vende-se terreno agrícola. Bem situado. Bom preço. Trata o próprio"
Era uma vez uma senhora que tinha um terreno muito bem localizado, denominado “Quinta do Epaminondas”, mas incluído naquilo que se chama de Reserva Agrícola Nacional (“reserva” que tem servido, fundamentalmente, para se fazerem [ou melhor, para alguns “eleitos” fazerem] o que se designa de “bons negócios”). Pois bem; essa senhora chamava-se, por exemplo, Etelvina Noronha ...
Ora, certo dia, a Sra. D. Etelvina Noronha foi procurado por três senhores muito bem postos e muito bem falantes que lhe propuseram adquirir a dita quinta por uma quantia assaz razoável, tendo em conta que se tratava de “terrenos agrícolas”. Dito e feito: adquiriram a quinta por um pouco mais de 200 mil contos (à antiga ...), não fizeram a escritura de compra e venda, mas deu-se a “tradição imediata da coisa” (ou seja, ficaram na posse da quinta).
Depois as coisas desenrolaram-se de modo tão rápido que é difícil vertê-las “em letra de forma”. Resumindo, basta dizer que o terreno “saiu” rapidamente da “reserva agrícola”, o respectivo PDM foi alterado em conformidade e a dita quinta é vendida, tempos mais tarde, pelo quádruplo do preço – 800 mil contos (de novo, “à antiga”) a uma entidade, por acaso pública – mas que podia muito bem ser privada....
Até aqui esta é uma história pouco mais que corriqueira – este foi o normal “trajecto” de muitos terrenos, e esta foi a forma (fácil e “inteligente”) de enriquecimento de muitos “empreendedores”, plenos de “espírito de iniciativa” e com “gosto pelo risco”, como soe dizer-se em “politiquês correcto”, os quais com essa meritória actividade, passaram “do nada” (ou seja do ponto em que a sua “mobília” cabia “numa caixa de fósforos”) para detentores de grandes empresas e vastas mansões.
Esta foi também a forma de empobrecimento de muitos proprietários rurais, que de detentores de propriedades que nada valiam nas suas mãos, passaram a vendedores “a pataco” de terrenos que valiam milhões nas mãos de terceiros...
O que pode tornar a história um pouco mais “apimentada” poderá ser o facto de um dos três adquirentes ser filho do presidente da câmara municipal em cujo concelho está situado o dito terreno; e de um dos outros restantes adquirentes ser o vice-presidente da câmara municipal onde o pai deste seu “sócio” é presidente; por fim o outro sócio era mais dedicado a “coisas da bola”, o que só por si não garante nada (ou garante tudo ...).
Ainda que possa parecer o contrário, nada disto é inusitado, estranho, irrazoável ou excessivo, bem vistas as coisas.
É mesmo do mais comezinho, corriqueiro, diga-se mesmo ...“absolutamente natural”.
Foi aqui, mais uma vez, seguido o princípio de que “se até foram pagos os respectivos impostos”, não foi feito nada de (formalmente) “ilegal” ou “proibido”, não foi “roubado nada a ninguém”, qual o problema...?
Já não se pode “fazer pela vida”, é ...?
Sendo assim comummente conhecidas e aceites tais práticas, máximas e valores, parece excessiva a “admiração”.
Ora, certo dia, a Sra. D. Etelvina Noronha foi procurado por três senhores muito bem postos e muito bem falantes que lhe propuseram adquirir a dita quinta por uma quantia assaz razoável, tendo em conta que se tratava de “terrenos agrícolas”. Dito e feito: adquiriram a quinta por um pouco mais de 200 mil contos (à antiga ...), não fizeram a escritura de compra e venda, mas deu-se a “tradição imediata da coisa” (ou seja, ficaram na posse da quinta).
Depois as coisas desenrolaram-se de modo tão rápido que é difícil vertê-las “em letra de forma”. Resumindo, basta dizer que o terreno “saiu” rapidamente da “reserva agrícola”, o respectivo PDM foi alterado em conformidade e a dita quinta é vendida, tempos mais tarde, pelo quádruplo do preço – 800 mil contos (de novo, “à antiga”) a uma entidade, por acaso pública – mas que podia muito bem ser privada....
Até aqui esta é uma história pouco mais que corriqueira – este foi o normal “trajecto” de muitos terrenos, e esta foi a forma (fácil e “inteligente”) de enriquecimento de muitos “empreendedores”, plenos de “espírito de iniciativa” e com “gosto pelo risco”, como soe dizer-se em “politiquês correcto”, os quais com essa meritória actividade, passaram “do nada” (ou seja do ponto em que a sua “mobília” cabia “numa caixa de fósforos”) para detentores de grandes empresas e vastas mansões.
Esta foi também a forma de empobrecimento de muitos proprietários rurais, que de detentores de propriedades que nada valiam nas suas mãos, passaram a vendedores “a pataco” de terrenos que valiam milhões nas mãos de terceiros...
O que pode tornar a história um pouco mais “apimentada” poderá ser o facto de um dos três adquirentes ser filho do presidente da câmara municipal em cujo concelho está situado o dito terreno; e de um dos outros restantes adquirentes ser o vice-presidente da câmara municipal onde o pai deste seu “sócio” é presidente; por fim o outro sócio era mais dedicado a “coisas da bola”, o que só por si não garante nada (ou garante tudo ...).
Ainda que possa parecer o contrário, nada disto é inusitado, estranho, irrazoável ou excessivo, bem vistas as coisas.
É mesmo do mais comezinho, corriqueiro, diga-se mesmo ...“absolutamente natural”.
Foi aqui, mais uma vez, seguido o princípio de que “se até foram pagos os respectivos impostos”, não foi feito nada de (formalmente) “ilegal” ou “proibido”, não foi “roubado nada a ninguém”, qual o problema...?
Já não se pode “fazer pela vida”, é ...?
Sendo assim comummente conhecidas e aceites tais práticas, máximas e valores, parece excessiva a “admiração”.