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Pharmácia de Serviço

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"Alegrismo"

As sondagens não são a realidade. Mas são uma aproximação; de alguma forma antecipam-na.

Ora, as sondagens têm vindo a dar a Manuel Alegre resultados crescentes. Resultados, aliás, que deixam o candidato oficial do PS a larga distância, cavando um cada vez maior fosso entre eles.

É verdade que as sondagens não são a realidade; mas não lhes prestar, sequer, um pouco de atenção é estultícia.

Pelos números, talvez se possa dizer que começa a surgir algo a que se pode chamar de "alegrismo". Pode não ser mais que um movimento à volta de uma pessoa, pode nem chegar a ser um partido, mas que terá efeitos dentro do PS, isso vai ter.

O PS, para já, não quer acreditar. Continua a "apostar no seu cavalo" (passe a expressão betandwindesca). Mas domingo cairá na realidade.

O mal menor para o PS será Cavaco ganhar à primeira volta. Pois se houver segunda volta, o PS – com todos os seus dirigentes, à frente dos quais está o primeiro ministro – estará colocado perante um dilema terrível: suportar o vexame e passar pela vergonha de ter que votar, na segunda volta, em Alegre, candidato que para o qual se portou da forma que se sabe antes das presidenciais e que combateu durante a campanha, ou não votar, garantindo, de forma implícita, a vitória de Cavaco.

É evidente que o PS, engolirá todos os sapos (ainda que atentando contra a natureza...) para que Cavaco não ganhe. Mas, para o PS, talvez esta seja a pior das soluções.

A vitória de Cavaco, mesmo que "candidato da direita", pode garantir ao PS um mandato governamental tranquilo, por mais estranho que tal possa parecer.
Cavaco não fará nunca a vontade a muitos dos seus votantes, de “defenestar”, na primeiro oportunidade que se lhe depare, o primeiro ministro.
Preso naquele “bom-senso” de que a “estabilidade” é um valor fundamental (mesmo quando tudo está “podre”), garantirá ao governo um mandato tranquilo, eventualmente o único que o governo cumprirá - se cumprir, pois não haverá de tardar muito que ele “caia de maduro” se não mesmo “de podre”.
De qualquer das formas o governo dependerá sempre e unicamente de si. Não há que recear Belém.

A vitória de Alegre é claramente mais complicada.
Como é sabido, Alegre e o actual secretário geral do PS não jogam no mesmo tabuleiro. Isso viu-se nas eleições para secretário geral do PS.
Para tentar “manietar” Alegre e sob a capa da “pacificação”, Sócrates chamou-o para a máquina do partido. Chegou mesmo a apontá-lo como o candidato oficial do PS à presidência. Mas foi sol de pouca dura.
Numa manobra ainda mal explicada, Sócrates deu o dito por não dito (no que é exímio) e chamou Soares para candidato oficial, esquecendo totalmente Alegre, como se tal hipótese nunca houvera existido.
Alegre não perdoou aquilo que, no íntimo, considerou uma “canalhice”. E avançou.

Avançou contra Soares, não sentindo, e não se sentindo nele, qualquer inferioridade ou subalternidade, confrontando-o e batendo-se de igual para igual.
Mas principalmente, (agora, ainda de forma invisível) avançou contra Sócrates e o aparelho do PS. Aliás ele di-lo na campanha, ao referir repetidamente que não tem nenhuma máquina por detrás da sua candidatura e que também não precisa dela. E esta é a sua força.

Ora em Belém, Alegre tudo fará para não ser um presidente “fantoche”, ás ordens de um primeiro ministro secretário geral do seu partido. Isto parece ser evidente e resultar de todos os factos e declarações recentes (como aquele “excesso” de dissolver a Assembleia em caso de privatização das águas). Mostra a sua disposição. E, por isso, não se coibirá de confrontar o primeiro ministro com as suas posições e com as suas decisões, que podem ser do mais terrível para a sobrevivência daquele.

Não é que Alegre se vá “vingar” – mas não vai deixar cair nada “em saco roto”.
E, para tudo isso, conta com a força dos votos que obteve – e que obteve sem o apoio do PS e mesmo com a oposição do aparelho PS.

De Belém, ele estará disposto a “enfrentar” não apenas o governo como o partido a que ainda pertence. E isso é sinónimo de dia difíceis – para o governo e para o PS. Diga-se, em abono da verdade, que ambos merecem. Mas o país, não.

Ora, a movimentação que se gerou à sua volta nada tem a ver com partidos, mas com uma pessoa: Alegre. E é esta força que lhe deu a legitimidade, atrás de uma vago ideário apegado a meia dúzia de chavões. Mas que na (in)cultura portuguesa são mais que suficientes para gerar "levantamentos". É nisto que ele se suporta.

Há uns anos, atrás foi-se formando à volta de uma pessoa, então presidente, um movimento que veio desaguar num partido. Na cena política, deu em nada. Mas Soares e os seus governos lembram-se bem dos efeitos. E no PS, causou danos estruturais. Se Cavaco esteve dez anos no poder, deve-o um tanto ao PRD.

E como teriam sido as coisas no PS, se Salgado Zenha tivesse ganho as presidenciais? O que seria hoje o PS, se existisse? Será que haveria outro partido na mesma área? E quem seria Soares?

Há já uma vintena de anos, Zenha desfilou-se do PS para concorrer ás presidenciais contra o até então seu amigo Soares, e perdeu.

Hoje a história repete-se, mas com um “guião” diferente. Alegre não se desfilou do PS e está prestes a vencer Soares, candidato oficial do PS, na primeira volta. Já isto é diferente de todo o passado.

Se for à segunda volta e ganhar as presidenciais, como ficarão as coisas?
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domingo, janeiro 22, 2006 11:55:00 da tarde

Alegre, rencoroso anti- espanhol    



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