...da Universidade de Coimbra, da sua Faculdade de Letras, de uma temerosa subserviência de uns e do proselitismo "vendido" de outros...
Após o já mencionado período de aproximação ao Ocidente, (...) a partir de 2007, Putin inflectiu o
seu rumo. O ponto de viragem foi a Conferência de Segurança de Munique,
em Fevereiro, em que Putin fez um discurso muito crítico da política
externa dos EUA, reprovando-lhe a “quase total ausência de contenção no
uso de força nas relações internacionais”. Em Junho, após um rápido
aumento da tensão entre Rússia e EUA e na véspera de uma reunião do G8,
na Alemanha, Putin negou que a Rússia procurasse um confronto com os
EUA, mas reclamou “um diálogo em que os interesses das duas partes sejam
colocados ao mesmo nível”.
Não será coincidência que tenha sido
também em 2007 que Putin criou a Fundação Russkiy Mir (Mundo Russo), que
teria, alegadamente, a vocação de promover a língua e cultura russas no
estrangeiro, mas cuja real missão é legitimar os russófonos que vivem
fora da Rússia – sobretudo na Ucrânia, nos Estados bálticos e na
Moldávia (Transnístria) – como russos étnicos e incutir-lhes um sentido
de pertença a uma comunidade pan-russa, alicerçada numa longa e gloriosa
História (envolta na aura resplandecente da Igreja Ortodoxa Russa ) que
inclui os czares da Moscóvia, o Império Russo e a União Soviética e a
sua heróica luta contra a ameaça nazi, que é colocada em contraponto com
o Ocidente materialista, decadente, debochado e imperialista. Digamos
que a Fundação Russkiy Mir (que desenvolve actividade em Portugal,
nomeadamente em instituições de ensino superior) parece ser menos o
equivalente russo do Instituto Camões do que uma agência internacional
de propaganda e doutrinação.
A biografia de Vyacheslav Nikonov (n.1956), presidente da Fundação
Russkiy Mir desde a sua fundação em 2007, não poderia ser mais
elucidativa: líder local do Komsomol (organização de juventude do regime
soviético), funcionário do Partido Comunista da URSS, membro das
administrações presididas por Gorbachev, Yeltsin e Putin (o que atesta a
flexibilidade da sua coluna vertebral), deputado da Duma desde 1993
(representando o Rússia Unida, de Putin, desde 2011), director da
Faculdade de Administração Pública da Universidade Estatal de Moscovo,
vice-presidente do conselho de redacção da revista A Rússia na Política
Mundial, chefe de redacção da revista Estratégia da Rússia. Na boca de
Nikonov, a invasão da Ucrânia é uma “guerra santa” e as forças armadas
russas a “encarnação de Deus”. O facto de o seu avô materno (e homónimo)
ser Vyacheslav Molotov, ministro dos Negócios Estrangeiros de Stalin e
obreiro do tratado que leva o seu nome ajuda a perceber a continuidade
em termos de ambições imperiais, estratégias de propaganda e compromisso
com a verdade entre a URSS de Stalin e a Rússia de Putin.
Ao
mesmo tempo que a Fundação Russkiy Mir procurava infiltrar-se no
domínio espiritual, o poder militar russo começou a exercer pressão no
mundo material, mais precisamente nalguns países vizinhos que tinham
integrado o Império Russo-Soviético. Em 2008, quando o conflito entre as
forças secessionistas da Ossétia do Sul (que foi território georgiano
até 1991) e a Geórgia se reacendeu, a Rússia lançou um ataque contra a
Geórgia, forçando esta a suspender as hostilidades contra os
independentistas. A Ossétia do Sul está, desde então, no limbo: a Rússia
e mais quatro países (Venezuela, Nicarágua, Síria e Nauru) reconhecem a
Ossétia do Sul como estado independente, o resto da comunidade
internacional entende que ela faz parte da Geórgia, ainda que, na
prática, o Governo georgiano não tenha, de facto, controlo sobre a
região separatista.
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on quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024 at 22.2.24.
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