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Pharmácia de Serviço

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Pobres e mal agradecidos

Entre notáveis do PSD na Figueira da Foz já há várias vozes que se erguem contra um eventual regresso de Santana Lopes. O antigo presidente da câmara da Figueira da Foz (entre 1980-82), Joaquim de Sousa diz ao Observador que colocar Santana Lopes como candidato do PSD seria uma “péssima ideia”, e lembrou que a autarquia andou “20 anos a pagar a dívida que ele deixou”. E acrescenta:  “Ainda se está a pagar a dívida”.

É preciso ser-se muito ranhoso e ingrato para se afirmar uma coisa destas e ter-se esta posição. Pode-se  discordar do que Santana fez na figueira. Mas que deixou marca e recolocou a figueira no mapa, isso nem vale a pena contestar.

Mas talvez os figueirinhas (ou berbigões, como preferirem) tenham a memória curta ou então, de habituados que estão, nem notassem as diferenças. Por isso, umas breves notas.

Quando Santana se candidatou à câmara da figueira, em 1997, o psd não tinha ninguém - ou só tinha figuras de segundo plano que, em eleições contra qualquer nabo, levariam uma corrida em pêlo - para concorrer à câmara municipal e tirar de lá os socialistas que nada tinham feito durante o tempo que lá estiveram.

Convém recordar que então a figueira, a praia da figueira - que tinha sido uma das grandes praias portuguesas, a praia da claridade, com a sua marcha do vapor, o seu casino e o pátio das galinhas, o picadeiro cheio de charme e glamour, com gente bonita e educada - era menos que uma choldra, em completo declínio, apagada, degradada, triste, sem nada nem ninguém de interesse, pejada de parolos, onde não havia turismo nem turistas nem esperança de os tornar a haver. A sua hotelaria e restauração arrastavam-se numa acabada e vil tristeza, entre agostinha e teimoso, entra o aliança e o portugal, enquanto a sua praia se ia transformando num deserto, à custa da miragem de um porto comercial cheio de movimento, a que a sua barra e os portos de aveiro e leixões nunca permitiram devaneios, enquanto a velha piscina-praia, encerrada, se ia degradando despudoradamente mesmo à frente da marginal, sob o cansado olhar de soslaio do grande hotel, enquanto o relógio da torre marcava pontualmente a mesma hora há muitos anos. 

Talvez os figueirinhas já estejam esquecidos, mas isto era a figueira a que Santana concorreu.

Santana foi de peito feito à eleição e, de forma asseada, espetou com uma maioria absoluta aos socialistas que os arredou da edilidade durante largos anos.

Depois pôs mãos à obra. 
Arranjou, alindou, passeou pelo picadeiro e pela marginal, estimulou o comercio, a hotelaria e a restauração, atraiu a sociedade (a que tem dinheiro e que o gasta...), cumprimentou, cortês e educadamente, as velhas senhoras, que se deliciavam com a sua jovialidade e apreciavam o trato e modo de antanho, que já não se via, criou um oásis e uma plataforma. pólos de atracção de gente e de alegria, onde ele funcionava como pólo de atenções. 
Voltou a colocar no mapa os agostos da figueira, até então tristes, pindéricos, desérticos, abandonados.
A figueira remoçou com as gentes que a ela regressavam para voltar a ver os tempos do pessidónio do montargil, das soirées do casino repleto de meninas portuguesas e espanholas, enquanto os papás davam uma volta na roleta ou nas máquinas, do fino do caravela, do copo no oásis, da noite até de dia. E, de manhã, da praia enevoada à borda das frias ondas, onde Santana também aparecia. 
E o CAE - dito megalómano por gente pequena - que é um manacial de actividade em torno da arte, cultura e música, na região e no pais - e que nada havia de semelhante, até então, na zona e arredores, coimbra dos dótores incluída.
Figueira cosmopolita, figueira urbana, figueira social, figueira economicamente desenvolvida, figueira com melhor nível económico-social, figueira desenvolvida e regressada ao mapa das grandes cidades-praia do pais.

É verdade que nada se faz sem dinheiro. E o que então foi feito na figueira, foi-o com dinheiro. Muito. E nisso Santana era perito. Gastava. Mas talvez esse gasto tenha sido aquele do qual se viram frutos de imediato. De uma dia para o outro, a figueira da foz saiu da penumbra de morte que a ia estiolando, e reapareceu rejuvenescida e apelativa, voltando a ocupar o lugar que era seu no turismo estival nacional. Mas não só. Desenvolveu-se e projectou-se para o futuro. Teria sido óptimo se quem veio depois tivesse sabido aproveitar o caminho aberto, evitando o declínio que ameaça estar de novo a rondá-la.

Santana fez coisa mal. Seguramente que sim. Muitas. Outros teriam feito diferente. Decerto. Vale críticas. Vale.
Mas recusar Santana para candidato às autárquicas como quem tem lepra seria em qualquer caso um desaproveitamento.
Mas essa recusa, no caso da figueira, só pode ser a mais inimaginável e ranhosa ingratidão de pobre...
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