Pobres e mal agradecidos
É preciso ser-se muito ranhoso e ingrato para se afirmar uma coisa destas e ter-se esta posição. Pode-se discordar do que Santana fez na figueira. Mas que deixou marca e recolocou a figueira no mapa, isso nem vale a pena contestar.
Mas talvez os figueirinhas (ou berbigões, como preferirem) tenham a memória curta ou então, de habituados que estão, nem notassem as diferenças. Por isso, umas breves notas.
Quando Santana se candidatou à câmara da figueira, em 1997, o psd não tinha ninguém - ou só tinha figuras de segundo plano que, em eleições contra qualquer nabo, levariam uma corrida em pêlo - para concorrer à câmara municipal e tirar de lá os socialistas que nada tinham feito durante o tempo que lá estiveram.
Convém recordar que então a figueira, a praia da figueira - que tinha sido uma das grandes praias portuguesas, a praia da claridade, com a sua marcha do vapor, o seu casino e o pátio das galinhas, o picadeiro cheio de charme e glamour, com gente bonita e educada - era menos que uma choldra, em completo declínio, apagada, degradada, triste, sem nada nem ninguém de interesse, pejada de parolos, onde não havia turismo nem turistas nem esperança de os tornar a haver. A sua hotelaria e restauração arrastavam-se numa acabada e vil tristeza, entre agostinha e teimoso, entra o aliança e o portugal, enquanto a sua praia se ia transformando num deserto, à custa da miragem de um porto comercial cheio de movimento, a que a sua barra e os portos de aveiro e leixões nunca permitiram devaneios, enquanto a velha piscina-praia, encerrada, se ia degradando despudoradamente mesmo à frente da marginal, sob o cansado olhar de soslaio do grande hotel, enquanto o relógio da torre marcava pontualmente a mesma hora há muitos anos.
Talvez os figueirinhas já estejam esquecidos, mas isto era a figueira a que Santana concorreu.
Santana foi de peito feito à eleição e, de forma asseada, espetou com uma maioria absoluta aos socialistas que os arredou da edilidade durante largos anos.
É verdade que nada se faz sem dinheiro. E o que então foi feito na figueira, foi-o com dinheiro. Muito. E nisso Santana era perito. Gastava. Mas talvez esse gasto tenha sido aquele do qual se viram frutos de imediato. De uma dia para o outro, a figueira da foz saiu da penumbra de morte que a ia estiolando, e reapareceu rejuvenescida e apelativa, voltando a ocupar o lugar que era seu no turismo estival nacional. Mas não só. Desenvolveu-se e projectou-se para o futuro. Teria sido óptimo se quem veio depois tivesse sabido aproveitar o caminho aberto, evitando o declínio que ameaça estar de novo a rondá-la.