A ler...
O primeiro-ministro esteve impecável. Em vez de explicar, como os fracos, o dr. Costa exigiu explicações. Em vez de dar respostas, como os pelintras, o dr. Costa fez perguntas. Em vez de pedir desculpas, como os malucos, o dr. Costa pediu um “focus group” para avaliar o impacto dos fogos na sua imprescindível popularidade. E sempre com um perpétuo ar compungido, que só interrompeu para participar, aos saltinhos, no “lançamento” de um indivíduo obscuro – e certamente prodigioso – à câmara de Lisboa.
O Bloco de Esquerda esteve magnífico. De início, ao pedir chuva em lugar de demissões. De seguida, ao descobrir que a culpa dos incêndios é dos eucaliptos, que os eucaliptos foram uma invenção de Salazar e que os capitalistas da celulose querem calcinar o país inteiro. Ficou claro que o conhecimento do dr. Louçã & Cia. em matéria de fogos florestais rivaliza com a erudição que demonstram na economia e, de resto, em qualquer assunto que se dignem abordar. Avisado, o governo apressou-se a proibir o eucalipto, em forma plantada ou tentada.
O PCP esteve fabuloso. Perdida a liderança do combate ao eucalipto para o BE, os comunistas desprezaram Pedrógão Grande e mantiveram-se focados nas autênticas prioridades nacionais, leia-se uma greve dos professores convocada para fingir que a classe está descontente.
Os “media”, salvo ligeiros deslizes, estiveram estupendos. Às primeiras notícias funestas, correram a auxiliar os que mais precisavam: o dr. Costa, a ministra e as metástases do poder. Raramente se assistiu por cá a acção de solidariedade tão coordenada.