Para que não haja mais populismo rasca de "gritaria de parto"...
De resto, até às intervenções do actual secretário de Estado, Rocha Andrade, tudo o resto eram dúvidas e suspeições. Vejamos então o que passámos a saber e aquilo que ainda desconhecemos.
Antes dele falar não sabíamos por que motivo a Autoridade Tributária não registara devidamente cerca de 10 mil milhões de euros de declarações enviadas pelos bancos. Depois ficámos a saber que essas declarações são relativas a 14 mil transferências que ficaram “ocultas” por um mau funcionamento do sistema informático.
Não sabíamos como é que elas tinham sido “descobertas”, agora ficámos a saber que entretanto entrou em funcionamento um novo sistema informático que apurou valores muito diferentes, o que fez disparar os alarmes. Não foi a publicação de estatísticas que fez a diferença (este Governo começou por publicar estatísticas erradas) – foi a diferença de valores entre os dados tratados pelo anterior e pelo actual sistema informático que mostrou que algo estava mal.
Não sabíamos se havia algum euro de impostos por cobrar, isto é, se o tratamento das declarações permitiria encontrar divergências entre os dados fornecidos pelos bancos e os fornecidos pelos contribuintes, e ainda não sabemos, mas Rocha Andrade disse não estar “em condições de afirmar se há um tostão de imposto em falta”, mesmo não sendo possível garantir que falha informática “não levou a perda fiscal”.
Não sabíamos se tinha havido neste processo alguma interferência política, mas o mesmo secretário de Estado disse não ter encontrado nenhum indício que isso tenha ocorrido. Tal como acrescentou não considerar estranho que os números conhecidos pelo seu antecessor devessem, só por si, ter chamado a atenção para que alguma coisa pudesse estar mal.
Por fim não sabíamos porque é que o Governo estava a demorar tantos meses a perceber o que se passara, mas agora sabemos que a auditoria da Inspecção-Geral de Finanças ao sistema informático só estará concluída no final deste mês de Março.
A única coisa que ainda não sabemos é porque é que estes esclarecimentos levaram tanto tempo a ser dados de forma clara, permitindo que no entretanto se instalasse a confusão entre a ausência de estatísticas publicadas e a possibilidade de uma gigantesca fuga aos impostos, umas águas turvas onde muitos chafurdaram