Ao balcão da Pharmácia
Muita gente anda compreensivelmente angustiada com a situação nacional. Estranha é a quantidade de pessoas que se dizem desorientadas, sem ver saída. A crise é grave, mas a solução é fácil. São só três coisas simples: deixar-se de tretas, apertar o cinto e trabalhar mais. A mais difícil é a primeira.
Vivemos há anos mergulhados em caldo de léria. Por exemplo, nesta grave crise existe uma pessoa imaculadamente inocente: José Sócrates. O senhor primeiro-ministro, que há seis anos só executa políticas excelentes, reformas decisivas com resultados históricos, não tem culpa nenhuma. O mal vem todo da crise mundial, da Europa, dos mercados e agência de rating.
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O mal foi acreditarmos nas tretas. A sociedade é democrática e aberta e as lérias foram sempre sucessivamente aplaudidas. Apesar das repetidas denúncias feitas por organismos internacionais, análises económicas, escândalos políticos, opiniões jornalísticas, o povo acreditou sempre. Com tal ingenuidade, Portugal pode estar prostrado; não pode é estar surpreendido.
Agora que fazer? Trocar o Governo é fácil. Difícil é mudar mentalidades. Não apertamos o cinto porque os furos estão tapados. Não há trabalho porque não se pensa em criar empregos e procuramos os que gostamos e não os que há. Quando se ganham hábitos de rico, custa regressar à realidade. Se ao menos nos deixássemos de lérias...
João César das Neves, hoje, no Diário de Notícias