Ao balcão da Pharmácia
Na verdade, a cooperação entre Belém e São Bento está moribunda há já bastante tempo, embora nenhum dos inquilinos destes palácios o admita. Não é que daqui venha um grande mal ao chamado "regular funcionamento das instituições". Basta conhecer minimamente o pensamento político e a forma de estar na política de Cavaco Silva e Jóse Sócrates para se saber que estes dois homens nunca poderiam ter um entendimento profundo.
Já graves são os sinais que começam a surgir de que há uma estratégia do PS para atacar o Presidente da República, enquanto político e enquanto cidadão. Uma estratégia que vai além da intransigência de mexer no texto do Estatuto dos Açores, que o chefe de Estado vê como fundamental e divide mesmo alguns socialistas, ou do simples facto de não adoptar um mecanismo de acompanhamento da nova Lei do Divórcio, como sugeriu Cavaco. Quando um adjunto directo do primeiro-ministro vem a público criticar o Presidente da República, no final de Outubro, por ter vetado, ao abrigo os seus direitos constitucionais, o Estatuto dos Açores, enquanto o primeiro-ministro se refugia no silêncio; ou quando José Lello, dirigente do PS e um dos conselheiros do Sócrates, refere a existência de rumores sobre Cavaco Silva e o BPN, já não se trata de haver ou não cooperação. Trata-se de puro terrorismo político.
Atacar desta forma o Presidente para dar ideia de que há divergências ideológicas profundas entre Cavaco e Sócrates pode até valer alguns votos à esquerda nas eleições do próximo ano. Mas também cria desconfiança e acinte entre os líderes de duas instituições que, mesmo não cooperando estrategicamente ou institucionalmente, têm forçosamente de se entender sobre matérias importantes. E como esses sentimentos estão em cima da mesa, não há entendimentos possíveis. Haverá apenas o pântano em que alguém ficará atolado.
Luciano Alvarez,
hoje, no Público on line