Re-partição
Numa cidadezinha deste “canteiro” – cidadezinha cheia de prosápia e pergaminhos, mas só mesmo isso – o Prior de uma das freguesias resolveu fazer um sorteio para ajudar a arranjar uns tostões (isto foi ainda no tempo em que havia tostões e em que os tostões valiam dinheiro) para a construção da residência paroquial, ali num terreninho arrimado à igreja da paróquia.
Para “adoçara a pílula” ou seja para incentivar a procura de rifas e assim obter uma quantia mais “redonda”, conseguiu arranjar dois prémios “chorudos”: um automóvel e uma motoreta (ainda não havia scooters, só mesmo genuínas motoretas).
Organizadas as rifas, vá de começar a a sua venda, não sem antes o senhor Prior avisar na homília da missa dominical, à igreja cheia, que ia ser feito um sorteio para arranjar dinheiro para a construção da residência paroquial, que os prémios iam ser um automóvel e uma motorizada, e que o resultado do sorteio seria também oportunamente anunciado na missa dominical.
Ouvido isto, logo os paroquianos, cheios de fé e crentes nas indulgências, se dispuseram a comprar as rifas, não sem a esperança de, ao mesmo tempo que iam garantindo um lugar no Paraíso, poderem, cá na Terra , trocar as viagens de eléctrico, por uns passeios de pó-pó, ou ao menos, por umas voltinhas de motoreta.
Passaram-se os dias, uns iguais aos outros, e chegado o domingo aprazado, a igreja encheu-se de fiéis, uns mais fiéis que outros, mas todos na esperança de que os prémios lhes calhassem a eles.
O senhor Prior, sobe ao púlpito, pigarreia, e com voz sonora (ainda não havia altifalantes) anuncia:
- Caros paroquianos. Vou anunciar o resultado do sorteio do automóvel e da motorizada, cujo lucro reverte para a construção da residência paroquial …
Nos bancos da assistência, os paroquianos ajeitam-se nos seus lugares, apurando o ouvido.
- Tenho a informar que o sorteio rendeu uma quantia suficiente para as obras que estão a decorrer. Por isso, a todos os que quiseram contribuir, comprando as rifas, o meu muito obrigado, em nome da paróquia…
Os fiéis já se agitavam e cochichavam de forma um tanto despropositada, tendo em consideração que estavam num lugar sagrado e a assistir à missa de domingo.
O senhor Prior, finalmente, deixa-se de considerandos e dispõe-se, de vez, a anunciar o ansiado resultado.
- Bom. E vamos lá então a anunciar o resultado do sorteio… Tenho a dizer que se deu um milagre, pois só por milagre estas coisas acontecem. Pois bem … não querem lá saber que o automóvel me saiu a mim e a motorizada ao sacristão?
Vá-se lá saber porque bulas esta história faz lembrar aquela outra que ocorreu em Mesão Frio, e segundo a qual o presidente da câmara local nomeou a sua “esposa” como sua “chefa da gabinete” e recrutou “por concurso” uma sua filha como técnica superiora da "sua" câmara municipal.
É que, naturalmente aqui, não se tratou de qualquer milagre, mas tão simplesmente, do resultado de uma pura avaliação objectiva das capacidades de cada uma das ditas funcionárias.
Perante o espanto causado pela “actuação”, justificou-se o senhor presidente dizendo:
- A pessoa que ganhou, ganhou! E acho estranho que o caso de Mesão Frio seja assim tão amoral, com tantas situações iguais que se vivem em muitos gabinetes ministeriais …
Para “adoçara a pílula” ou seja para incentivar a procura de rifas e assim obter uma quantia mais “redonda”, conseguiu arranjar dois prémios “chorudos”: um automóvel e uma motoreta (ainda não havia scooters, só mesmo genuínas motoretas).
Organizadas as rifas, vá de começar a a sua venda, não sem antes o senhor Prior avisar na homília da missa dominical, à igreja cheia, que ia ser feito um sorteio para arranjar dinheiro para a construção da residência paroquial, que os prémios iam ser um automóvel e uma motorizada, e que o resultado do sorteio seria também oportunamente anunciado na missa dominical.
Ouvido isto, logo os paroquianos, cheios de fé e crentes nas indulgências, se dispuseram a comprar as rifas, não sem a esperança de, ao mesmo tempo que iam garantindo um lugar no Paraíso, poderem, cá na Terra , trocar as viagens de eléctrico, por uns passeios de pó-pó, ou ao menos, por umas voltinhas de motoreta.
Passaram-se os dias, uns iguais aos outros, e chegado o domingo aprazado, a igreja encheu-se de fiéis, uns mais fiéis que outros, mas todos na esperança de que os prémios lhes calhassem a eles.
O senhor Prior, sobe ao púlpito, pigarreia, e com voz sonora (ainda não havia altifalantes) anuncia:
- Caros paroquianos. Vou anunciar o resultado do sorteio do automóvel e da motorizada, cujo lucro reverte para a construção da residência paroquial …
Nos bancos da assistência, os paroquianos ajeitam-se nos seus lugares, apurando o ouvido.
- Tenho a informar que o sorteio rendeu uma quantia suficiente para as obras que estão a decorrer. Por isso, a todos os que quiseram contribuir, comprando as rifas, o meu muito obrigado, em nome da paróquia…
Os fiéis já se agitavam e cochichavam de forma um tanto despropositada, tendo em consideração que estavam num lugar sagrado e a assistir à missa de domingo.
O senhor Prior, finalmente, deixa-se de considerandos e dispõe-se, de vez, a anunciar o ansiado resultado.
- Bom. E vamos lá então a anunciar o resultado do sorteio… Tenho a dizer que se deu um milagre, pois só por milagre estas coisas acontecem. Pois bem … não querem lá saber que o automóvel me saiu a mim e a motorizada ao sacristão?
Vá-se lá saber porque bulas esta história faz lembrar aquela outra que ocorreu em Mesão Frio, e segundo a qual o presidente da câmara local nomeou a sua “esposa” como sua “chefa da gabinete” e recrutou “por concurso” uma sua filha como técnica superiora da "sua" câmara municipal.
É que, naturalmente aqui, não se tratou de qualquer milagre, mas tão simplesmente, do resultado de uma pura avaliação objectiva das capacidades de cada uma das ditas funcionárias.
Perante o espanto causado pela “actuação”, justificou-se o senhor presidente dizendo:
- A pessoa que ganhou, ganhou! E acho estranho que o caso de Mesão Frio seja assim tão amoral, com tantas situações iguais que se vivem em muitos gabinetes ministeriais …