"Um soninho descansado"
A uns dias da tomada de posse de Cavaco Silva como Presidente da República para os próximos cinco anos (a seguir se verá …), o país está adormecido como uma criança.
Nada o desperta, nada o acorda deste sono letárgico em que mergulhou há cerca de um ano e do qual, episodicamente, teve uns breves despertares para, em dois actos eleitorais, votar exactamente em sentido contrário ao que tinha feito há meia dúzia de meses atrás.
Decorridos que foram esses períodos eleitorais, voltou a adormecer, alheado, estremecendo quando sonha a realidade, dormindo placidamente sonhos cor-de-rosa que espera concretizados ao despertar. Ao longe, ouve, numa voz celestial, a velha canção:
Oh papão vai-te embora,
De cima desse telhado,
Deixa dormir o menino,
Um soninho descansado!
O que o país quer é que alguém (de preferência, cantando) lhe mantenha os papões à distância, para dormir em paz.
E é exactamente isso o que o governo tem vindo a fazer. Sem eliminar os papões – antes, deixando que eles se multipliquem e engrossem cada vez mais – vai mantendo-os à distância, não os deixando perturbar o nosso soninho.
Mas quando não for possível esconder mais os papões, vamos acordar num pesadelo.
Neste berço balouçante que é o nosso país, a oposição, essa que deveria agora estar mais atenta que nunca, entregou-se, deliciada, nos braços de Morfeu.
Ausente em dolente sono, apenas com episódicos resmungos e ressonadelas estrepitosas, mal dá sinais de querer acordar, logo o governo a embala um pouco mais, defumando-a com uns fumos opiáceos de umas medidas “mal amanhadas”, umas iniciativas despropositadas ou um discurso assertivo mas vácuo, a que ela, inebriada e tonta, mal consegue balbuciar uma crítica.
Depois da vitória da “direita” nas autárquicas, vitória que se afigura cada vez mais como “pírrica” – não apenas não beliscou a maioria e não serviu de lição ao governo, como ainda o governo (que verdadeiramente é centralista e autoritário), paulatinamente, há-de “espartilhar” as autarquias (mais que não seja financeiramente), “imobilizando-as”, “subjugando-as” e tornando-as suas tributárias – a oposição de “direita” olha agora messiânicamente para o seu candidato presidencial eleito, esperando o dia da posse como o elo que a poderá voltar a ligar ao poder e a ser um contraponto ao governo.
Porém, desde a eleição presidencial que a oposição se tem remetido ao costumeiro silêncio de ideias e de criticas construtivas, apenas desancando em Freitas do Amaral – o qual, se não tiver outro qualquer préstimo, tem servido ás mil maravilhas” para a manter distraída e ocupada, enquanto o primeiro ministro, como de costume, se remete ao prudente silêncio dos ignaros – não falam para não asnear.
E o país, sem voz e sem reacção, “espalma-se” cada vez mais, como um “bacalhau ao sol”, debaixo do exercício de um poder obstinado, autoritário, seco, anunciando constantemente avulsas ideias de pacotilha que vende por boas – e que se louva, para esses exercícios, na legitimidade de uma maioria absoluta parlamentar, como se isso fosse o salvo-conduto para a sua irrestrita autoridade e a grilheta para o obrigado silêncio dos demais.
Exaurido em impostos, abandonado ao desemprego, vítima de uma crise económica que haverá ainda de produzir efeitos mais drásticos, o país vive, silenciosamente, um governo sem ideias sólidas, sem politicas coerentes, sem rumo definido – em suma, um governo avulso.
Tudo o que prometeu, não cumpriu.
Mas com uma audácia e desvergonha inusitada – e, verdadeiramente, até agora incontestada – afirma hoje o que ontem criticou, faz hoje o que ontem apodou de erro, segue caminhos que dantes eram abismos.
Perante este estado, a oposição, “balhelha” e apática, “abre alas”, cede terreno, desprovida de ideias, de alternativas, de críticas concretas.
Quando o primeiro-ministro a confronta com o passado – como se isso fosse um anátema para ela, e um salvo-conduto para ele – cala-se.
Estamos a oito dias da posse do novo presidente.
Para evitar desilusões, será bom que a “direita” se convença que a presidência não vai servir para seu palanque, nem vai substituir a oposição que cabe ser feita pelos “seus” partidos.
E, ou a oposição de “direita” ganha peso e consistência ou este soninho vai continuar por mais uns anos.
Nada o desperta, nada o acorda deste sono letárgico em que mergulhou há cerca de um ano e do qual, episodicamente, teve uns breves despertares para, em dois actos eleitorais, votar exactamente em sentido contrário ao que tinha feito há meia dúzia de meses atrás.
Decorridos que foram esses períodos eleitorais, voltou a adormecer, alheado, estremecendo quando sonha a realidade, dormindo placidamente sonhos cor-de-rosa que espera concretizados ao despertar. Ao longe, ouve, numa voz celestial, a velha canção:
Oh papão vai-te embora,
De cima desse telhado,
Deixa dormir o menino,
Um soninho descansado!
O que o país quer é que alguém (de preferência, cantando) lhe mantenha os papões à distância, para dormir em paz.
E é exactamente isso o que o governo tem vindo a fazer. Sem eliminar os papões – antes, deixando que eles se multipliquem e engrossem cada vez mais – vai mantendo-os à distância, não os deixando perturbar o nosso soninho.
Mas quando não for possível esconder mais os papões, vamos acordar num pesadelo.
Neste berço balouçante que é o nosso país, a oposição, essa que deveria agora estar mais atenta que nunca, entregou-se, deliciada, nos braços de Morfeu.
Ausente em dolente sono, apenas com episódicos resmungos e ressonadelas estrepitosas, mal dá sinais de querer acordar, logo o governo a embala um pouco mais, defumando-a com uns fumos opiáceos de umas medidas “mal amanhadas”, umas iniciativas despropositadas ou um discurso assertivo mas vácuo, a que ela, inebriada e tonta, mal consegue balbuciar uma crítica.
Depois da vitória da “direita” nas autárquicas, vitória que se afigura cada vez mais como “pírrica” – não apenas não beliscou a maioria e não serviu de lição ao governo, como ainda o governo (que verdadeiramente é centralista e autoritário), paulatinamente, há-de “espartilhar” as autarquias (mais que não seja financeiramente), “imobilizando-as”, “subjugando-as” e tornando-as suas tributárias – a oposição de “direita” olha agora messiânicamente para o seu candidato presidencial eleito, esperando o dia da posse como o elo que a poderá voltar a ligar ao poder e a ser um contraponto ao governo.
Porém, desde a eleição presidencial que a oposição se tem remetido ao costumeiro silêncio de ideias e de criticas construtivas, apenas desancando em Freitas do Amaral – o qual, se não tiver outro qualquer préstimo, tem servido ás mil maravilhas” para a manter distraída e ocupada, enquanto o primeiro ministro, como de costume, se remete ao prudente silêncio dos ignaros – não falam para não asnear.
E o país, sem voz e sem reacção, “espalma-se” cada vez mais, como um “bacalhau ao sol”, debaixo do exercício de um poder obstinado, autoritário, seco, anunciando constantemente avulsas ideias de pacotilha que vende por boas – e que se louva, para esses exercícios, na legitimidade de uma maioria absoluta parlamentar, como se isso fosse o salvo-conduto para a sua irrestrita autoridade e a grilheta para o obrigado silêncio dos demais.
Exaurido em impostos, abandonado ao desemprego, vítima de uma crise económica que haverá ainda de produzir efeitos mais drásticos, o país vive, silenciosamente, um governo sem ideias sólidas, sem politicas coerentes, sem rumo definido – em suma, um governo avulso.
Tudo o que prometeu, não cumpriu.
Mas com uma audácia e desvergonha inusitada – e, verdadeiramente, até agora incontestada – afirma hoje o que ontem criticou, faz hoje o que ontem apodou de erro, segue caminhos que dantes eram abismos.
Perante este estado, a oposição, “balhelha” e apática, “abre alas”, cede terreno, desprovida de ideias, de alternativas, de críticas concretas.
Quando o primeiro-ministro a confronta com o passado – como se isso fosse um anátema para ela, e um salvo-conduto para ele – cala-se.
Estamos a oito dias da posse do novo presidente.
Para evitar desilusões, será bom que a “direita” se convença que a presidência não vai servir para seu palanque, nem vai substituir a oposição que cabe ser feita pelos “seus” partidos.
E, ou a oposição de “direita” ganha peso e consistência ou este soninho vai continuar por mais uns anos.