Assassinatos
«Quero exprimir a minha solidariedade ao ministro das Finanças, que é um homem sério e muito competente, e quero que fique bem claro que não serão campanhas como esta, que visam o assassinato de carácter, que nos afastarão do nosso caminho», disse, numa reacção às notícias de que Luís Campos e Cunha acumula o vencimento de ministro com uma reforma do Banco de Portugal.
O senhor primeiro ministro está equivocado e a confundir tudo!
O senhor primeiro ministro deve saber muito bem, porque a utilizou muitas vezes, que a Estrada da Beira não é o mesmo que a beira da estrada.
Dizer-se que o senhor ministro das finanças aufere a quantia de 115.000 euros anuais, a título de reforma paga pelo fundo de pensões do Banco de Portugal, constitui uma simples enunciação de um facto, sem que tal comporte qualquer valoração subjectiva.
Dizer-se que o senhor ministro das finanças aufere a quantia de 115.000 euros anuais, a título de uma choruda reforma paga pelo fundo de pensões do Banco de Portugal, não obstante ser uma mera evidência, contém já um, ainda que corrente, juizo de valor sobre o montante da reforma. Na verdade, de uma reforma de 115.000 euros anuais, o mínimo que se pode dizer é que é choruda!
É do mais elementar senso comum que, a referência ao montante da reforma alguém, por mais elevada que ela seja, não é mais do que uma descrição factica e objectiva, e onde não há qualquer juizo subjectivo e muito menos qualquer intenção "assassina".
O senhor ministro das finanças não agiu ilegalmente quando adquiriu o direito a auferir aquela pensão de reforma, não praticou qualquer ilegalidade ou imoralidade para a ela ter direito, e ela foi-lhe atribuída por decorrência de norma jurídica (que a atribuiria identica pensão a outros desde que em iguais circunstâncias).
Agora, classificar como "campanha de assassinato de carácter" o dizer-se que o senhor ministro das finanças aufere de uma reforma de 115.000 euros anuais (que é um puro facto), revela à evidência, da parte de quem assim qualifica tal facto, um pré-entendimento e um juizo de valor sobre o que "julga" poder estar subjacente àquela divulgação.
Ou seja, o senhor primeiro ministro
- pensa que nas circunstancias que ora se vivem, uma pensão daquele quilate, tão "choruda", "dá nas vistas";
- pensa também que uma pensão como essa representa uma desigualade profunda e gritante em relação à mediania dos cidadãos deste país, actuais ou futuros reformados, a quem se pedem os mais extremos sacrifícios;
- também acha que é imoral receber uma reforma daquelas ao fim de, apenas, seis anos de trabalho (por mais aturado que ele tenha sido);
- também pensa que se se encontrasse liberto de obrigações governamentais e estivesse na oposição não deixaria de zurzir esta situação (ainda que, certamente, não pretendesse "assassinar o carácter" de quem quer que fosse, porque o senhor primeiro ministro é, como se comprova, uma pessoa de bem!);
- também acha que é uma ignomínia, no momento em que se aumentam as exigências para auferir os direitos sociais e se reduzem muitos deles, o arauto dessa redução aufira uma reforma privilegiada.
- pensa, no fundo, que este situação, pela sua singularidade, sai fora dos parametros de bom senso mínimo exigíveis a um político, e que a sua invocação é suficiente para derrubar, pelas razões mais óbvias, o sehor ministro;
- e como sinceramente o pensa, resolveu projectar o seu pensamento sobre terceiros, imputando-lhes intenções não reveladas.
Ou seja, foi o senhor primeiro ministro que revelou que é merecedor de um "assassinato de carácter" o facto de o senhor ministro das finanças auferir uma choruda pensão de reforma que acumula com o venmcimento de ministro.
Por seu lado, com esta reacção, o senhor primeiro ministro fez uma verdadeiro "assasinato de carácter" a todos os cidadão portuguese, aposentados ou não, que afirmem que o senhor ministro das finanças aufere uma pensão de reforma mensal superor a alguns salários anuais de muito bom cidadão português, ao pretender condená-los por "delito de pensamento" acerca dos seus governantes e designadmente por pensarem que gostavam de ter uma pensão de reforma igual àquela.