Efeitos do "não"
O primeiro ministro francês apresentou a sua demissão.
Por cá não se faz qualquer ideia do que irá acontecer. Alimentam-se todas as esperanças!
Certo é que o "não" francês teve a virtualidade de revelar que, afinal, a política europeia (toda a politica?) tem sido conduzida pelos caminhos (muito próprios) pensados pelos políticos, escolhidos pelos políticos, e indicados aos países pelos seus políticos, e que, eventualmente, esses caminhos, por vezes, pouco ou nada coincidem com aqueles que os cidadãos, se consultados, teriam escolhido (mal ou bem).
Portanto, a construção europeia é (tem sido) uma edificação dos políticos, pelos políticos, para os povos europeus? Será? Ou será que é também "para os políticos" e que os povos representam apenas o adereço necessário?
E isto é tanto mais assim quando, perante o "não" francês, iniciou-se de imediato o discurso de que "não há plano B" (o que não deixa de ter assomos da verberada afirmação de que "quem não é por nós é contra nós"), que se deve repetir o referendo (ad nauseam?) até se obter o "sim" (técnica muito utilizada em "plenários democráticos", até à votação favorável), que o a realidade do alargamento da europa a leste pressupunha a aprovação da constituição europeia, que o modelo actual de funcionamento dos mecanismos e formas institucionais pode vir a claudicar e a criar sérios problemas, que ... , que ... , que ... .
Parece, afinal, que existe um antagonismo estre governantes e governados, e que aqueles já não conseguem interpretar a vontade e as aspirações destes últimos. E estes, em face das posições dos seus governantes, e pelo que a experiência lhes tem ensinado, preferem desconfiar daqueles.
E este é o actual estado de coisas em que estão mergulhados todos e cada um dos "velhos paises" europeus: estado de coisas que, face às reacções dos próprios políticos à posição "não" e ao resultado obtido pelo "não", se apresenta duradouro e com tendência para o agravamento.