A ler...
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Uma das desgraças do Portugal de hoje é ter os antigos defensores das diversas versões do totalitarismo comunista transformados em grandes defensores da Democracia. (...)
O conselheiro Francisco Anacleto Louçã é um desses ilustres revolucionários do passado que hoje estão fantasiados de social-democratas. Com o verbo fácil, moralista e demagogo que sempre o caracterizou, transformou-se num simples e burocrático situacionista. Membro do Conselho de Estado e do Conselho Consultivo do Banco de Portugal por indicação do PS e do Governo, o conselho Anacleto é hoje uma espécie de porta-voz do poder instituído.
E o que anda a preocupar o conselheiro Anacleto? A Justiça, mais concretamente esse perigoso juiz chamado Carlos Alexandre e o facto de querer ouvir o primeiro-ministro António Costa no âmbito da instrução criminal do caso de Tancos. Tanta é a sua preocupação (e ansiedade) que desferiu um ataque que tem tanto de soez como de canalha (...).
E o que diz o conselheiro Anacleto? Que o juiz quis criar um “incidente político” ao pedir ao Conselho de Estado para ouvir presencialmente o primeiro-ministro António Costa e que o magistrado tem alguma coisa a ver com um “site do Facebook” (sic) chamado “Apoio ao Juiz Carlos Alexandre” que o próprio conselheiro Anacleto diz que tem “algumas dezenas de milhares de seguidores do Chega e de outros grupos de extrema direita que se organizaram a partir daí.”
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Um bom radical tem duas características inatas: a desonestidade intelectual e uma tendência natural para a manipulação dos factos. É difícil encontrar um melhor exemplo vivo do que o conselheiro Anacleto. (...)
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Afinal, do que tem medo o conselheiro Anacleto? Que o tribunal tente descobrir a verdade material sobre o conhecimento de António Costa sobre o caso — quando o primeiro-ministro é uma testemunha indicada pelo seu ex-ministro Azeredo Lopes? Que o Ministério Público ou os advogados dos outros arguidos façam perguntas incómodas a Costa sobre a relação próxima que tinha com Azeredo?
Pior do que isso é a visão do conselheiro Anacleto sobre o que deve ser um juiz. Confrontado pela jornalista Ana Patrícia Carvalho com o óbvio — se o depoimento for por escrito, o juiz não poderá contestar as respostas de António Costa —, o fundador do Bloco de Esquerda responde: “O juiz não pode contestar as respostas. Isso não compete a um juiz. O juiz faz as perguntas e regista as respostas”.
É certo que Anacleto é economista de formação mas não saber a diferença entre um juiz e um oficial de justiça é de uma ignorância atroz.(...)
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É igualmente muito estranho que o conselheiro Anacleto ataque o juiz Carlos Alexandre por “algumas decisões muito polémicas do ponto de vista da atuação jurídica” que não indica nem concretiza — e omita as 11 derrotas quase consecutivas que o juiz Ivo Rosa, um dos colegas de Alexandre no Tribunal Central de Instrução Criminal, já teve na Relação de Lisboa.
Não se percebe que Anacleto, tão preocupado que está com os juízes que não respeitam a lei, fique em silêncio perante as acusações de diferentes desembargadores de que o Ivo Rosa exorbita as suas funções, invade o campo das competências de exclusivas do Ministério Público e impede os procuradores de investigar. Ou nada diga por Rosa ter perdido mais de 60% dos recursos num só processo.
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Coitado do país que dependa do conselheiro Anacleto e das suas críticas seletivas e intelectualmente desonestas. Anacleto adaptará sempre os seus princípios às respetivas necessidades do momento. Porque essa é outra característica dos extremistas: o oportunismo.