A ler...
A oligarquia no poder não é a melhor fonte para percebermos o que é lícito e moral. Esta semana, os oligarcas deram-nos a boa nova de que vivemos em democracia, isto é, num regime em que podemos perguntar e discutir tudo livremente, ao contrário do que acontece em ditadura. Ao mesmo tempo, porém, disseram-nos esperar que não fizéssemos perguntas nem discutíssemos a tragédia de Pedrogão-Grande, como alguns políticos e jornalistas, porque isso seria “aproveitamento político”, o que é “imoral” e portanto inaceitável.
(...)
A democracia tem de facto este inconveniente, que António Costa e os seus acólitos comunistas e neo-comunistas tanto lamentam: os cidadãos, imagine-se, começam logo a abusar da liberdade para “fazer política” com temas inconvenientes para o governo. Ora, o problema é que os temas inconvenientes para o actual governo são muitos, são todos aqueles que, por qualquer razão, podem desarranjar a lenda do “sucesso” e das “boas notícias”, tão cuidadosamente cultivada desde há quase dois anos. Por isso, falar de sistemas de emergência que não funcionam ou de armas roubadas à vontade nos paióis do Estado é “aproveitamento político”, uma coisa “imoral”, pela qual devia haver pedidos de desculpa. Até porque nem faltam temas legítimos de discussão, como, por exemplo, a vitória no Festival da Canção, que ainda não foi suficientemente analisada (nomeadamente, no sentido de reconhecer a responsabilidade do governo na vitória de Salvador Sobral).