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Se estas eleições são um drama, isso deve-se inteiramente a António Costa.
Costa já explicou que não admite uma derrota. A não ser que a coligação tenha uma maioria absoluta, Costa pretende ser governo mesmo perdendo as eleições.
António Costa podia ter tentado ganhar as eleições demonstrando que era mais competente e mais consensual. Preferiu, em vez disso, o confronto e a ruptura. Dir-me-ão: mas é só para as eleições; se ganhar, voltará a ser sensato. Não. Costa é agora prisioneiro da sua estratégia. Na Europa, fez do PS um “partido anti-austeridade”, destinado a alarmar os investidores internacionais. Em Portugal, tornou o PS um factor de crispação e de conflito. Ontem, na RTP, Costa sentiu necessidade de esclarecer que não iria lançar o país no “caos”. Mas o facto de ter de dar essas explicações diz tudo sobre a estratégia que seguiu. O caos já começou, pelo menos no que ele diz.
Haverá quem diga: o resultado de 4 de Outubro não é assim tão importante; se tudo correr mal, teremos novas eleições dentro de um ano. O problema de novas eleições, na actual situação de convalescença do crédito público, é que será difícil impedir que signifiquem um novo resgate, com mais cortes e mais impostos. É essa, de facto, a escolha no domingo: ou um resultado decisivo, ou um segundo resgate.
Rui Ramos, O drama eleitoral, no Observador