As vitórias
Porque os sindicatos de professores proclamam vitória na sua greve de hoje, há também que proclamar a vitória da não greve.
A vitória da não greve é a vitória de todos aqueles professores que hoje, dia de greve, ou seja, dia do "terror" e coacção sindicais, tiveram a coragem serena de, contra a "comodidade" da adesão à greve ou o temor por retaliações pela não adesão, comparecer na sua escola e, nessa medida, permitir a realização de exames – mesmo que sentindo "na pele" os mesmos problemas e razões dos grevistas.
Esta é, pois, uma vitória da verdadeira cidadania, do dever social, da consciência cívica, da honestidade, da responsabilidade, do espírito de missão, enfim, do espírito de classe que enforma as verdadeiras elites.
Mas, por isso, esta vitória é, também ou fundamentalmente, uma vitória contra a proletarização da função pública. Os funcionários públicos – e os professores – não são proletários. E se o não são, não podem compartar-se como se o fossem. Ao deixar-se arrastar para "lutas proletárias" apenas contribuem para a degenerescência do seu estatuto funcional e da sua posição social.
Mesmo que só um aluno tivesse feito exame – e não foi só um, foram várias centenas ou milhares – já tinha sido uma vitória. O país não pode mais andar vergado às vontades e quereres de "nogueiras" e de "avoilas". É preciso repensar o sindicalismo e, fundamentalmente, estes sindicalistas. Porque se o país está no estado em que está, estes sindicatos e estes sindicalistas muito contribuíram para esta sua desgraça. E se o país precisa de reforma, então estes sindicalistas já deviam estar reformados há muito.