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Pharmácia de Serviço

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Ao balcão da Pharmácia



Durante toda a semana passada, e seguindo uma tradição que já vem detrás, o jornal "Público" transformou-se numa espécie de extensão do boletim da Fenprof, em militante apoio aos exames nacionais de português. Na fase de crescendo final, o jornal chegou mesmo ao ponto de tentar vender à opinião pública a mais absurda e e desonesta da teses da Fenprof: a de que, se os alunos não iriam ter exames, a culpa não era da greve marcada pelos sindicatos para aquele dia, mas do ministro da Educação, que não quis atender à marcação da greve e adiar os exames para outro dia. Como se tivesse sido o ministro a marcar os exames nacionais para um data já reservada pela Fenprof para fazer greve e não o contrário. O dever do ministro seria, pois, o de se curvar também ele às ordens da Fenprof e, sem nenhuma garantia de que o adiamento não conduzisse à marcação de nova greve para a nova data dos exames, sujeitar-se a jogar ao gato e ao rato com o sr. Mário Nogueira, com total desprestígio do Ministério e total desconsideração pelos alunos. Sem estrebuchar, o "Público" deu o seu melhor para nos tentar convencer de que no espírito dos sindicatos jamais esteve qualquer intenção de prejudicar os exames ou os alunos, e que quem os tomava por reféns era sim o ministro – como brilhantemente explicou o outrora professor Mário Nogueira. O facto de a greve sectorial ter sido agendada para a data do exame nacional de português, a greve geral para a data do exame nacional de matemática, e ambas concorrendo com as greves às avaliações (que duram já há duas semanas e prometem continuar) seria apenas uma coincidência, uma distracção dos sindicatos, que, de forma alguma, pretenderiam utilizar os alunos como instrumentos indefesos das suas reivindicações. Oh, não, de forma alguma!
Sucedeu, entretanto, que Nuno Crato teve uma odeia tão simples como brilhante: convocou todos os professores para vigiar os exames. Essa decisão – que o "Público", sem temer o ridículo, não deixou de ecoar como uma "violação do direito à greve" – permitiu ao sr. Mário Nogueira proclamar "mais de 90% de adesão à greve", enquanto os dados oficiais registavam que mias de três quartos dos alunos tinham conseguido fazer exames (embora também nos tivessem garantido que eles estavam solidários com a greve dos professores...). Perante estas dados, um jornal a sério teria escrito como título da notícia: "Greve não impede 76% dos exames". Ou, se quisesse adoptar a lógica sindical: "Crato derrota Fenprof". Mas o "Público" é o "Público" e eis a sua manchete de terça-feira: "Pais e directores condenam desigualdades nos exames". E, em subtítulo: "Pelo menos 20.000 alunos não fizeram o exame e e foram denunciadas inúmera irregularidades". Agora, os factos invocados: a "desigualdade" consiste em haver alunos que fizeram exames a 17 de Junho e outros que o vão fazer a 2 de Julho; os "pais" eram dois dirigentes das inúmeras associação de pais existentes, de norte a sul e seguramente escolhidos a dedo, porque eu ouvi outros dizer o oposto do relatado no jornal; os "directores" eram também dois directores de outras tantas inúmeras associações nacionais e por acaso coincidentes com as posições da Fenprof. E as "irregularidades" (invocadas pela Fenprof e ecoadas pelo "Público"), eram tão ridículas como o facto de numa escola se terem ocupado menos salas do que o previsto, noutra ou noutras se terem iniciado os exames 15 minutos depois da hora marcada e noutras, alegadamente, os exames terem sido vigiados por quem, segundo a Fenprof, "não tinha formação para tal" (será preciso tirar um curso para vigiar um exame?). Ou seja, e resumindo: a derrota custou muito a digerir. À Fenprof e ao "Público". No primeiro caso, entende-se; no segundo, sinceramente, lamenta-se. Mas cada um escolhe a corda com que se quer enforcar.

Miguel Sousa Tavares, A greve ao jornalismo, ontem, no Expresso (edição papel)
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