Passar por entre os pingos...
O reitor da universidade do Porto veio dizer o óbvio: "as universidades não foram a causa da crise financeira".
Fica-se admirado e não se percebe a afirmação – nem o seu tom justificatório ou desculpabilizante – pois que ninguém, que se saiba, acusou as universidade de tal. Porque ninguém, em seu perfeito juízo, poderia dizer que a crise foi causada pelas universidades.
Mas isso é uma coisa. Coisa diferente é as universidades pretenderem eximir-se à situação de contenção financeira a que o Estado está sujeito com a alegação de que não foram elas que causaram a crise financeira, como quem quer "passar por entre os pingos da chuva sem se molhar".
Aliás as universidades, por mais que digam, têm vivido sempre com um certo desafogo financeiro porque, à conta da ideia de que a ciência e investigação são essenciais para o desenvolvimento dos países e dos povos, as universidades assumiram-se como os únicos "sítios" onde será possível "acontecer" essa "ciência" e a "investigação" pelo que nenhum governo gosta de ser acusado de não dar dinheiro às universidades.
Ora todo este dinheiro tem servido para as universidades crescerem desmedidamente. Crescerem em novas instalações, em docentes, em cursos, em serviços, e naquela "cintura de asteróides" que gravita à sua volta.
Por isso, em tempo de crise, as universidades não se podem pretender eximir de economizar fortemente, racionalizando drasticamente as suas estruturas, poupando fortemente nos seus gastos, adequando o seu corpo docente àquilo que ensinam e investigam, acabando de vez a gestão "doutoral" que as caracteriza e que aproveita a designada "autonomia universitária" para se transformar numa gestão autocrática, de "eminências" e de "quintas", onde se justificam interesses individuais com o interesse "maior" da "universidade" quando não da "investigação" e da "ciência", perante os quais tudo tem que ceder. Ao que acresce a "cintura de asteróides" das mais variadas estruturas e entidades, formais e informais, que gravitam em torno da(s) universidade(s) e que as mais das vezes não se sabe concretamente para que servem e o que fazem (sendo certo que fazem sempre "coisas" "altamente"), não se conhece bem a sua utilidade para a investigação, ciência e para o sistema cientifico nacional (mas isso também não se questiona, nem pode questionar, porque essa estrutura "é" do "senhor professor doutor") nem se sabe ao certo o que produzem (ou, antes, se dedicam mesmo a uma verdadeira investigação e desenvolvimento ou se apenas se limitam a produzir serviços que vendem no mercado por bom preço como se foram empresas privadas de alguém) ou se, simplesmente, se dedicam a "encher choiriços" (mas mesmo isso, feito com muita "ciência"), estruturas essas que "parasitam" a universidade, que lhe roubam vitalidade, que "desviam" meios financeiros que podiam ser atribuídos à universidade, quando não acabam por ser verdadeiros "pesos mortos" financeiros das universidades, que apenas lhes trazem custos e encargos, todas elas criando uma enorme "opacidade" para o governo universitário, que se "opaciza" ainda mais quando se passa para o nível do governo do estado.
Racionalizar e ordenar (ou seja, "pôr ordem") em tudo isto é essencial, porque isso permitirá "separar o trigo do joio", criar economias de escala, evitar replicações, e assim poupar muito dinheiro.
É natural que com isto se gerem alguns "doutorais" "azedumes" e ressentimentos. Mas isso é o que menos importa.
Importante é que que, depois de tudo isso, as universidades, contribuindo para o esforço de poupança, continuem a funcionar e a cumprir a sua missão.