"Na seita não ha papão, tudo tem explicação"...**
Portugal já está a ser ajudado e enfrenta já uma violentíssima falta de acesso aos mercados financeiros.
Comecemos pelos factos que demonstram que o acesso a financiamento externo estava, e está, lentamente a fechar-se para Portugal - ainda antes da crise política.
1. O Estado português está há meses a ser apoiado pelo Banco Central Europeu através da compra de dívida pública portuguesa no mercado secundário, para combater a subida da taxa de juro. Não se conhecem os montantes, porque o BCE não os divulga, mas uma estimativa de um banco de investimento internacional aponta para valores da ordem dos 18 mil milhões de euros.
2. Os bancos portugueses, que não se conseguem financiar no mercado desde o primeiro trimestre do ano passado, estão a obter recursos do BCE por troca de títulos que têm em carteira. O último montante que se conhece, relativo a Fevereiro, é de 41 mil milhões de euros. E este ano os bancos portugueses precisam, obviamente, de recursos para pagar dívida que chega ao fim da maturidade.
3. Com os valores estimados para o Estado e os contabilizados para a banca, o apoio do BCE a Portugal rondará quase 60 mil milhões de euros. Apenas como referência, porque não se podem fazer comparações directas, o empréstimo a sete anos e meio que o FMI e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira acordou para a Irlanda é de 85 mil milhões de euros.
4. A Refer, uma empresas pública de infra-estruturas ferroviárias, não conseguiu financiar-se no mercado, ou seja, falhou uma emissão.
5. A Parpública não conseguiu colocar os títulos que corresponderiam a mais uma fase da privatização da EDP - obrigações permutáveis.
São cinco factos a que se podem somar "não factos", ou seja, a ausência de operações de financiamento no mercado por parte de grandes empresas.
Aos factos que expõem as dificuldades crescentes de acesso a financiamento acrescentam-se os mais recentes factos que apontam para um apoio mais activo da Europa a Portugal:
1. Equipas técnicas do BCE e da Comissão Europeia estiveram em Portugal durante duas semanas, até dia 10 de Março, a desenhar com o Governo português as novas medidas de austeridade.
2. Portugal foi o único país do euro que antecipou o seu programa de estabilidade, e apresentou-o numa Cimeira Extraordinária da Zona Euro - acontecimento raro - onde a situação financeira do País foi um dos principais temas.
3. A Comissão Europeia e o BCE fizeram um comunicado conjunto sobre Portugal, um facto inédito. No fim dessa declaração, lemos uma frase igualmente invulgar: as duas instituições vão fiscalizar a concretização das medidas por parte de Portugal.
Numa forma dura e crua, pode dizer-se que Portugal está já a ser governado a partir de Bruxelas e Frankfurt. E que já está tudo preparado para o Governo fazer o pedido formal de ajuda financeira à Europa e ao FMI.
Factos são factos. O resto, a dita crise política, é o jogo da culpa. O Governo, pelo que disse ou pelo que não fez, quer tirar de cima de si a culpa do pedido de ajuda financeira. Um jogo que nos vai sair caro, que vai exigir ainda mais medidas de austeridade.
Helena Garrido, no Jornal de Negócios
** dos "Cabeças no Ar"
Comecemos pelos factos que demonstram que o acesso a financiamento externo estava, e está, lentamente a fechar-se para Portugal - ainda antes da crise política.
1. O Estado português está há meses a ser apoiado pelo Banco Central Europeu através da compra de dívida pública portuguesa no mercado secundário, para combater a subida da taxa de juro. Não se conhecem os montantes, porque o BCE não os divulga, mas uma estimativa de um banco de investimento internacional aponta para valores da ordem dos 18 mil milhões de euros.
2. Os bancos portugueses, que não se conseguem financiar no mercado desde o primeiro trimestre do ano passado, estão a obter recursos do BCE por troca de títulos que têm em carteira. O último montante que se conhece, relativo a Fevereiro, é de 41 mil milhões de euros. E este ano os bancos portugueses precisam, obviamente, de recursos para pagar dívida que chega ao fim da maturidade.
3. Com os valores estimados para o Estado e os contabilizados para a banca, o apoio do BCE a Portugal rondará quase 60 mil milhões de euros. Apenas como referência, porque não se podem fazer comparações directas, o empréstimo a sete anos e meio que o FMI e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira acordou para a Irlanda é de 85 mil milhões de euros.
4. A Refer, uma empresas pública de infra-estruturas ferroviárias, não conseguiu financiar-se no mercado, ou seja, falhou uma emissão.
5. A Parpública não conseguiu colocar os títulos que corresponderiam a mais uma fase da privatização da EDP - obrigações permutáveis.
São cinco factos a que se podem somar "não factos", ou seja, a ausência de operações de financiamento no mercado por parte de grandes empresas.
Aos factos que expõem as dificuldades crescentes de acesso a financiamento acrescentam-se os mais recentes factos que apontam para um apoio mais activo da Europa a Portugal:
1. Equipas técnicas do BCE e da Comissão Europeia estiveram em Portugal durante duas semanas, até dia 10 de Março, a desenhar com o Governo português as novas medidas de austeridade.
2. Portugal foi o único país do euro que antecipou o seu programa de estabilidade, e apresentou-o numa Cimeira Extraordinária da Zona Euro - acontecimento raro - onde a situação financeira do País foi um dos principais temas.
3. A Comissão Europeia e o BCE fizeram um comunicado conjunto sobre Portugal, um facto inédito. No fim dessa declaração, lemos uma frase igualmente invulgar: as duas instituições vão fiscalizar a concretização das medidas por parte de Portugal.
Numa forma dura e crua, pode dizer-se que Portugal está já a ser governado a partir de Bruxelas e Frankfurt. E que já está tudo preparado para o Governo fazer o pedido formal de ajuda financeira à Europa e ao FMI.
Factos são factos. O resto, a dita crise política, é o jogo da culpa. O Governo, pelo que disse ou pelo que não fez, quer tirar de cima de si a culpa do pedido de ajuda financeira. Um jogo que nos vai sair caro, que vai exigir ainda mais medidas de austeridade.
Helena Garrido, no Jornal de Negócios
** dos "Cabeças no Ar"